Cultura

Sessão de Cinema: “Gloria”

Nome central na história do moderno cinema americano, John Cassavetes dirigiu Gena Rowlands em algumas das suas personagens mais complexas — este “thriller” de 1980 é um magnífico exemplo.

Gena Rowlands filmada por John Cassavetes em "Gloria": uma maravilhosa aliança criativa

João Lopes

Quando falamos de John Cassavetes (1929-1989), somos naturalmente levados a sublinhar o seu lugar decisivo na dinâmica da produção independente dos EUA, em especial ao longo da década de 60 quando nasceu uma verdadeira “nova vaga” americana — e lembramo-nos, claro, de títulos tão marcantes como “Shadows” (1959), “Too Late Blues” (1961) e “Faces” (1968).

Seja como for, importa não esquecer que, por vezes, ele trabalhou também com os grandes estúdios de Hollywood, sem perder as marcas da sua identidade criativa. Um belo exemplo disso mesmo poderá ser “Gloria”, filme produzido pela Columbia Pictures, lançado em 1980 e que valeu a Gena Rowlands, mulher de Cassavetes, a sua segunda nomeação para um Óscar — obtivera a primeira, também sob a direcção do marido, graças a “Uma Mulher sob Influência” (1974).

Como dizia a publicidade da época [ver trailer original], Gena Rowlands prolongava uma tradição narrativa em que, pelo menos até àquela data, os protagonistas tinham sido sobretudo masculinos, com destaque para actores como James Cagney ou Humphrey Bogart. Assim, ela interpreta uma habitante do South Bronx, em Nova Iorque que, por circunstâncias que não controla, fica a tomar conta de uma criança, Phil (interpretado por John Adames, na altura com oito anos) — acontece que Phil pertence a uma família mafiosa e tem com ele um livro que pode comprometer algumas figuras do crime organizado…

Cassavetes reafirmava o seu talento de brilhante retratista da mais extremadas relações humanas, neste caso sabendo explorar as convulsões de uma narrativa devedora da grande tradição do chamado filme “noir” de Hollywood. Ao voltar a dirigir Gena Rowlands, ele reencontrava também outra figura essencial na evolução da sua obra, o produtor Sam Shaw (1912-1999). Além do já citado “Uma Mulher sob Influência”, ele tinha produzido dois outros filmes de Cassavetes: “Maridos” (1970) e “Noite de Estreia” (1977). Sem esquecer que Shaw foi um admirável fotógrafo de muitos actores de Hollywood, a ele pertencendo aquele que será o mais notável, e também emocionalmente mais próximo, portfolio de Marilyn Monroe.

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