Encontrei, por acaso, o vosso site e o vosso espaço de partilha. Procurava algumas informações acerca do processo de eutanásia, do luto, enfim...
Ajudou-me! Posso dizer honestamente que sim, que foi uma maneira de validar que aquilo por que estava a passar era comum a tantas outras pessoas que se deixam encantar pelos seus animais de estimação/companheiros.
Este é o meu testemunho. A minha despedida ao "nosso CAT". Estranha paz que sinto! Foi agora... há menos de 30 minutos. Ele partiu. O nosso CAT partiu.
Deixa em nós o seu enorme coração, a certeza de que nunca vamos ficar desprotegidos e o seu olhar... aquele olhar que que nos entrava pela alma e nos encontrava.
Partiu agora, e já sinto saudades...
O CAT entrou na nossa vida, de surpresa. Não estava previsto. Nem sei se o aceitei muito bem. Era um bebé fofo e inocente e confesso que tratei das suas necessidades básicas, dei-lhe mimo mas ainda assim não tinha a certeza. Afinal, ele iria ser "apenas" o guardião do armazém/estaleiro.
Nasceu a 11 de novembro, dia de São Martinho, uma das datas de que mais gosto, por remeter para a minha família e para as minhas origens. Cresceu de forma independente e livre e aprendeu tudo o que era, sozinho. Sim, pelos vistos não é preciso ter os melhores modelos para ser o melhor SER.
Cresceu e tornou-se num pastor alemão gigante, lindo e equilibrado. Divertido e sempre pronto para receber mais uma bola de futebol... a sua coisa favorita.
As bolas nunca eram demais. Chegou a ter uma dúzia dentro da sua casota, o que, por vezes, o obrigava a dormir na rua... mas não fazia mal. Eram o seu tesouro e estimava-as como ninguém.
Sempre se habituou a conviver com muitas pessoas e foi acarinhado por todos.
O espaço que lhe pertencia era também o nosso espaço de trabalho e mais tarde a nossa casa. Durante a construção da mesma o CAT desenvolveu um fascínio por betoneiras e pedras. Quando as obras terminaram, algum tempo depois, ele desapareceu durante toda uma tarde... fomos encontrá-lo no quintal do vizinho.
Parece que chegou lá, deu duas voltas ao local e manteve-se sempre ao pé de uma betoneira que estava a trabalhar. Ficou ali durante horas, simplesmente a olhar e a brincar com as suas pedras. Paraíso.
Imagino o pânico inicial dos vizinhos ao vê-lo chegar... ele era grande, muito grande e impunha um respeito silencioso.
Há muito que estava doente. Pregou-nos vários sustos. Choramos e rimos com as suas espantosas recuperações. Era lutador. Acho que lutava por ele e por nós.
Agora já não aguentava mais. Já vivia num mundo de silêncio e só os olhos continuavam tão profundos, sinceros e doces como antes.
Se falassem, se tivéssemos compreendido a sua linguagem, talvez o tivéssemos ajudado a partir mais cedo… Foi uma dura decisão, mas amar também é isto. É deixar ir quando tem mesmo de ser.
… e por fim, o seu olhar, encontrou-me uma última vez e validou tudo...
Foi um privilégio ter vivido com este ser tão especial. Há vidas que aparecem nas nossas vidas, muitas vezes sem querermos, só para nos fazer mais felizes.
Texto enviado por Jacqueline Ribeiro
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