“Um dia cheguei ao balneário, após um treino, e despi-me todo antes do banho. Algo que em Portugal e noutros países era normal. Mas ali os jogadores árabes começaram aos gritos e a atirarem-se para o chão. Não percebi aquela reação. Tinha um colega brasileiro que me disse: ‘Cara, você não pode estar nu na frente deles.’ Logo aí percebi que era uma cultura muito diferente.”
José Soares diz também que o profissionalismo que trazia da Europa acabou por dar-lhe muitas dores de cabeça: “Eles faziam tudo com muito mais calma, muito devagar, sem grandes preocupações.”
“Depois do jogo contra o Jardel, em que trocámos agressões, as portas do futebol português fecharam-se para mim”
Época 1999/2000. José Soares estava no Campomaiorense e a equipa alentejana tinha um jogo fundamental, contra o FC Porto, em que precisava de ganhar para se continuar a lutar pela manutenção.
Os dragões lutavam pelo pentacampeonato, que acabaram por alcançar, e tinham Mário Jardel como grande figura da equipa. Durante o jogo, José Soares estava responsável por marcar o goleador e tiveram um duelo muito aceso em que chegaram a trocar agressões: “Ganhámos 1-0 e fomos melhores do que o FC Porto. Mas as pessoas esqueceram-se disso e agarraram-se apenas ao meu episódio com o Jardel.”
José Soares considera que, a partir daí, a sua carreira no futebol português nunca mais foi igual: “Era jogador do Benfica, estava emprestado ao Campomaiorense, e recebi todo o apoio dos dois clubes. Só que não tendo espaço no Benfica, depois teria de jogar noutro lado e aí percebi que as portas de muitos clubes portugueses estavam fechados. Houve uma campanha e os clubes não me aceitavam porque parecia mal.”
Em relação a Jardel, nunca houve qualquer ressentimento. “Passado pouco tempo, estivemos juntos num programa da Sporttv que era apresentado pela sua mulher da altura, a Karen. Fui ao Porto ter com eles, falámos daquilo e até nos rimos muito da situação.”
“Rui Costa esteve sempre ao meu lado no primeiro treino que fiz pelo Benfica. Deu-me todo o apoio”
José Soares era júnior do Benfica quando recebe um telefonema para treinar com os seniores. Faltavam dez minutos para começar o treino: “Fui a correr até ao campo.” Na altura não havia centro de estágio do Seixal e era tudo na Luz. Mesmo assim, José Soares chegou com o treino a começar. Rui Costa, também jovem, mas já um jogador de equipa principal, estava à espera de José Soares:
“Perguntou-me se eu estava nervoso e deu-me conselhos. Fez a corrida à volta do campo comigo e só me dizia para jogar simples.”
José Soares recorda que foi bem recebido por todo o plantel: “O próprio Mozer, que era uma referência para todos os centrais, chegou a dizer-me para eu estar à vontade e se tivesse de lhe dar porrada para não ter problemas. Claro que não era inconsciente para dar uma entrada dura no Mozer.”