Ontem Já Era Tarde

“Roger Schmidt não é um homem deste ecossistema, ao contrário de Rúben Amorim e Sérgio Conceição”

O escritor Bruno Vieira Amaral não esconde o seu benfiquismo e diz que tem vivido esta época “com sentimentos contraditórios" em relação ao treinado do Benfica Roger Schmidt.

Luís Aguilar

O escritor Bruno Vieira Amaral não esconde o seu benfiquismo e diz que tem vivido esta época “com sentimentos contraditórios em relação a Roger Schmidt”.

“Acho que o treinador deve ficar até ao final da época, depois logo se vê o que acontece, mas considero-o um treinador abaixo dos outros dois, de Sporting e FC Porto.”

Ainda assim, Bruno Vieira Amaral considera que houve um excesso de críticas em relação a Schmidt e algumas foram muito evidentes pela comunicação social, sobretudo após um episódio em que o técnico das águias respondeu mal a um jornalista, perguntando-lhe o seu clube, depois da vitória do Benfica frente aos leões para o campeonato.

“Criou-se uma certa má vontade em que é mais fácil criticar um treinador estrangeiro do que Rúben Amorim ou Sérgio Conceição. Não sejamos ingénuos. Schmidt não tem ligações ao ecossistema futebolístico.” A juntar a isto, segundo o escritor, “os maus resultados e a diferença de futebol para a época passada” também não têm ajudado o treinador alemão.”

“Alguns escritores gostam de futebol, mas não escrevem sobre o tema porque ainda há um preconceito intelectual”

Noutros países há o hábito de ver escritores consagrados entrar, pelo menos uma vez, num livro sobre futebol. Eduardo Galeano (Futebol ao sol e à sombra), Javier Marías (“Selvagens e sentimentais”) ou Nick Hornby (“Febre no estádio”) são alguns exemplos. Por cá, não são muitos os autores de literatura que se aventuram na crónica de futebol e a publicam em livro.

Bruno Vieira Amaral escreve há seis anos para o Tribuna Expresso crónicas de futebol e preenche essa lacuna, mas aponta algumas exceções: “O António Lobo Antunes tem crónicas sobre futebol maravilhosas. Dinis Machado escreveu crónicas de futebol e estão publicadas num pequeno livro chamado “Liberdade do drible.”

Fernando Assis Pacheco foi outro caso.” Apesar dos exemplos, Bruno Vieira Amaral acredita que “ainda se mantém um certo preconceito intelectual da literatura em relação ao futebol e a tudo o que seja entretenimento de massas”.

“Há uma certa desconfiança e aquela ideia de que um escritor tem de se pôr num certo nível e olhar para essas coisas com distanciamento porque, de outra forma, está quase a conspurcar a literatura.”

O autor revela que, para ele, é precisamente o contrário. “Há muita coisa que o escritor pode ir buscar ao futebol. Há a parte da emoção, das pequenas histórias dos treinadores e adeptos ou até de uma ida ao estádio. Mas ainda há muito essa divisão entre a alta cultura e a baixa cultura, sendo que na baixa cultura, segundo essa ideia, está o futebol, e na alta está a literatura. Alguns escritores, por isso, evitam descer ao futebol. No meu caso, não o vejo como uma descida, mas sim como subir ao futebol porque há muita coisa para ir lá buscar.”

“Vítor Baptista tem uma história trágica e por isso mesmo mais interessante do ponto de vista do biógrafo”

Bruno Vieira Amaral é autor da biografia do escritor José Cardoso Pires, “Integrado Marginal”. O livro, publicado em 2021, foi muito aclamado pela crítica e marcou a primeira incursão do autor pelo género biográfico. “O critério que usei foi escolher um biografado que já tivesse morrido, com a sua história completa.”

Em relação ao futebol, e seguindo a mesma lógica, Bruno Vieira Amaral diz que há vários nomes que davam para fazer grandes biografias: “O Chalana, por exemplo. Também José Maria Pedroto e Fernando Gomes são figuras muito interessantes. E Vítor Baptista, claro, que tem uma história trágica e é muito mais interessante do ponto de vista do biógrafo.”

Últimas