Fernando Pereira era um estudante adolescente quando ouviu falar da Revolução na manhã de 25 de Abril de 1974. Rapidamente se dirigiu para o centro dos acontecimentos com outros colegas de escola e sobreviveu a um episódio que jamais esquecerá.
“Eu estava exatamente no local para onde a PIDE disparou umas rajadas [cinco mortos e mais de 40 feridos]. Levei um tiro no braço. Tive de ir para o hospital e tiraram-me a bala que tinha ficado alojada no pulso. Felizmente, não me deixou com danos. Mas depois a PIDE foi buscar-me ao hospital e levaram-me para o governo civil. E aí levei um enxerto de porrada. Só saí na madrugada do dia 26 de Abril quando a tropa tomou conta daquela parte e libertou a malta que lá estava.”
Fernando Pereira brinca com a situação e diz que o tiro é o seu verdadeiro “atestado de anti-fascista”.
“José Eduardo Bettencourt quase que me obrigou a ser sócio do Sporting”
Diz-se um sportinguista sem fanatismos e a ligação ao clube nem começou pelo futebol, mas por outras modalidades. Só mais tarde, já pai e a pedido dos filhos, começou a ir ao estádio com regularidade.
Na altura de eleições em que José Eduardo Bettencourt se candidatou, recebeu um convite: “Ele ia fazer a apresentação e quis levar alguns artistas do Sporting. Fui eu, o Sérgio Godinho, a Anabela, o Boss AC, entre outros músicos.” E foi ali que Bettencourt lançou a promessa para os associados presentes: “Virou-se para nós e perguntou se éramos sócios. Para os que responderam que não, como eu, ele disse que assim que fosse presidente iria fazer-nos sócios.”
A verdade é que ganhou e não se esqueceu. Alguns dias após as eleições, Fernando Pereira recebeu um telefonema: “Era o Bettencourt a dizer-me que eu tinha de me apresentar em Alvalade. Fizeram uma cerimónia muito engraçada, com vários artistas e atletas que ainda não eram sócios. A partir daí, comecei a viver mais o Sporting.”
“Dentro do relvado não deve haver política. Cá fora, os jogadores têm todo o direito de manifestar as suas opiniões.”
Sobre o recente Mundial do Qatar ou a ida de vários jogadores para a Arábia Saudita, dois países com fortes alegações de violações de direitos humanos, Fernando Pereira defende que todos os profissionais do futebol têm direito de não ir para determinados países por não concordarem com a sua conduta. “Mas se aceitas e vais, sabes ao que vais. Entras na casa dos outros e tens de respeitar a sua cultura e os seus costumes. Porque dentro do campo é para jogar e não para fazer política,” afirma.