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Centro de saúde é um salva-vidas para comunidades desfavorecidas em Mossul

Desde que começou a funcionar em julho de 2023, este centro tem sido um verdadeiro salva-vidas em Al-Ubor, onde cerca de 30.000 pessoas enfrentam dificuldades no acesso a cuidados médicos.

SIC Notícias

Médicos Sem Fronteiras

Num canto do Oeste de Mossul, no Iraque – uma zona frequentemente negligenciada pelos serviços públicos –, o centro de saúde de Al-Ubor ergue-se como um santuário vital para famílias que procuram acesso a cuidados de saúde essenciais.

Desde que começou a funcionar em julho de 2023, este centro tem sido um verdadeiro salva-vidas em Al-Ubor, onde cerca de 30.000 pessoas enfrentam dificuldades no acesso a cuidados médicos.

"Vimos aqui há dois anos para apoio em saúde mental, planeamento familiar, tudo", conta Basha'er Ahmed, paciente de longa data do centro e moradora nos arredores.

"O meu marido tem uma lesão na medula espinhal e não pode trabalhar. Os serviços aqui são gratuitos. Foram os meus vizinhos que me falaram do centro. É uma caminhada de meia hora para aqui chegarmos."

Um apoio vital numa zona negligenciada

Al-Ubor é uma zona densamente povoada e carenciada no Oeste de Mossul, onde os residentes enfrentam desafios diários devido à poluição, mobilidade reduzida e uma grave falta de serviços públicos – incluindo o acesso a cuidados de saúde com custos comportáveis. O acesso limitado a serviços públicos de saúde e outros constrangimentos existentes na vida das pessoas colocam a população de Al-Ubor numa situação de vulnerabilidade a doenças e a problemas de saúde.

"Em Al-Ubor, a água chega de cinco em cinco dias", acrescenta Basha'er Ahmed.

"Não há clínicas nem escolas e as crianças têm de caminhar longas distâncias para ir às aulas. Já vimos casos de sarna a espalharem-se rapidamente por falta de condições de saneamento."

Neste contexto, o centro de saúde de Al-Ubor ajuda a colmatar uma lacuna crítica, providenciando cuidados essenciais a famílias que, de outra forma, poderiam não ter acesso a cuidados médicos. Para muitas pessoas nesta zona, o centro é um dos poucos locais onde podem aceder a cuidados essenciais sem constrangimentos financeiros.

Dar resposta a necessidades urgentes com soluções práticas

O centro de saúde de Al-Ubor presta cuidados a crianças e adolescentes – a raparigas dos seis meses aos 19 anos e a rapazes até aos 14 anos – e disponibiliza consultas de medicina geral e cuidados de primeira linha.

Para os casos mais graves, há uma ambulância para transferir os pacientes para outros centros de saúde na cidade de Mossul. Os medicamentos são fornecidos no local, quando disponíveis, e, se estiverem em falta, a equipa da MSF (Médicos Sem Fronteiras) assegura que as famílias são encaminhadas para formas alternativas de os obterem.

A procura por cuidados de saúde não se limita a doenças básicas. As famílias tentam obter no centro de saúde também uma vasta gama de serviços de saúde materna e reprodutiva.

A supervisora de promoção de saúde da MSF Israa al-Hassan explica que "antes das atividades da MSF, muitos residentes tinham dificuldades em aceder a cuidados de saúde devido à distância, falta de transportes, estradas não asfaltadas e a ausência de instalações locais".

"Em situações de emergência, atrasos e obstáculos – até mesmo nos postos de controlo – podiam ter consequências fatais", assegura.

Chegar às pessoas não vacinadas

"Eu e o meu marido vivemos com os meus sogros. Vimos aqui porque é gratuito", frisa Doha Ghazi, uma jovem mãe de 19 anos que mora em Al-Ubor, enquanto aguarda para vacinar o filho.

Para dar resposta às necessidades da comunidade, o centro de saúde de Al-Ubor lançou um programa de vacinação infantil em abril de 2025, em parceria com a Direção de Saúde de Nínive. Todas as terças e quartas-feiras, são vacinadas dez a 40 crianças, muitas das quais não receberam as primeiras doses devido às distâncias, dificuldades financeiras ou desconfiança sobre o manuseamento das vacinas.

Em menos de três meses, foram administradas 764 vacinas; 240 destas só em junho. As vacinas protegem contra a tuberculose, sarampo, varíola, poliomielite e tosse convulsa.

"A minha filha mais velha também foi vacinada aqui", recorda Shaza Youssef, uma jovem mãe de dois filhos, enquanto segura ao colo o bebé, com 20 dias.

"Por isso é que trouxe cá o meu recém-nascido."

Apoio durante e depois da gravidez

Sem este centro de saúde, muitas pessoas não teriam acesso a cuidados – no que se incluem serviços de planeamento familiar entre outros. O centro também presta cuidados essenciais a mulheres durante a gravidez e após o parto, como ecografias, testes de infeções, vacinação contra o tétano e acompanhamento de rotina.

As mulheres recebem ainda cuidados pós-parto até 40 dias após o nascimento, para as apoiar na recuperação e bem-estar.

Outros serviços de planeamento familiar incluem dispositivos intrauterinos e implantes contracetivos para mulheres que, de outra forma, não teriam acesso a estas opções, sendo dada prioridade a quem tem necessidades médicas.

Embora não sejam feitos partos no centro de saúde, a equipa médica da MSF assegura o encaminhamento das grávidas para unidades adequadas em Mossul, como o Hospital de Nablus – onde a MSF continua a prestar cuidados –, ou para outras opções disponíveis, de forma a garantir igualmente a continuidade dos cuidados durante todo o processo.

Saúde mental e promoção da consciencialização

Para além da prestação de cuidados físicos, é feita promoção de saúde pela equipa da MSF, que sensibiliza para questões como a saúde mental, puberdade, higiene, doenças infeciosas e problemas crónicos como a resistência antimicrobiana, frequentemente agravada pelo uso desregulado de antibióticos em comunidades com baixos rendimentos.

Além disso, a equipa de saúde mental da MSF presta apoio psicossocial aos pacientes no centro de saúde de Al-Ubor.

Israa al-Hassan recorda casos em que mães recorreram a enfermeiras não qualificadas no bairro, o que levou à utilização desadequada de antibióticos e ao agravamento de doenças.

Atualmente, com os serviços providenciados pela MSF e as muitas sessões de sensibilização levadas a cabo, os residentes têm acesso mais rápido a cuidados de melhor qualidade, e o uso indevido de antibióticos diminuiu significativamente.

Perspetivas para o futuro

Num contexto em que os serviços públicos de saúde são escassos, o centro de Al-Ubor tornou-se um espaço de confiança, onde as crianças são vacinadas, as mães são apoiadas, a saúde mental é valorizada e as vozes da comunidade são ouvidas.

"Desde que começámos a trabalhar em Al-Ubor, temos visto mães e bebés mais saudáveis, melhores condições de vida e um mais forte sentimento de esperança. As pessoas recebem cuidados gratuitos e de qualidade, sem barreiras, e a comunidade sente-se mais segura e confiante em relação ao futuro", conclui a responsável da MSF pelas atividades de parteiras, Pacific Oriato.
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