Mundo dos Animais

Afetuosos e adeptos de 'abraços': novo estudo revela lado desconhecido de morcegos carnívoros

Novo estudo revela lado afetuoso (e inesperado) dos morcegos-espectrais, conhecidos popularmente como morcegos carnívoros. Espécie é amplamente reconhecida como a maior do continente americano, chegando a atingir um metro de envergadura.

Marta Ferreira

Podem parecer saídos de um filme de terror, ou do seu maior pesadelo, mas os morcegos-espectrais (Vampyrum spectrum) têm afinal um lado afetuoso e orientado para a família ou comunidade em que estão inseridos.

As descobertas foram feitas pela equipa de investigação do Museu de História Natural de Berlim que documentou sistematicamente, pela primeira vez, o comportamento social destas criaturas.

A observação do comportamento desta espécie em concreto - existem mais de 1.480 espécies de morcegos - foi realizada na floresta tropical seca de “La Estación Experimental Forestal Horizontes” em Guanacaste, Costa Rica.

A autora principal do estudo, Marisa Tietge, relatou que encontrou um poleiro por acaso numa árvore oca, enquanto estudava uma espécie diferente de morcego em Guanacaste, Costa Rica. Foi aí que instalou uma câmara ativada por movimento na base da árvore.

Verificou-se que os morcegos adultos levavam pássaros e roedores capturados e dividiam os alimentos com outros membros do grupo, sendo este um comportamento descrito como "raro" em morcegos.

Conclusões do estudo foram recebidas com surpresa

O estudo foi publicado na revista científica PLOS One no passado dia 20 de agosto tendo surpreendido pelas conclusões. É que estas criaturas não partilham apenas comida, são também carinhosos entre si.

Nos 73 vídeos captados com recurso a infravermelhos ficaram registados comportamentos sociais como o "repouso/empoleiramento social" em que "dois ou mais morcegos empoleirados próximos uns dos outros, com contacto corporal, criam uma formação semelhante a uma bola". Ou seja, "pelo menos um morcego envolve o(s) outro(s) morcego(s) com as suas asas", sendo este comportamento muitas vezes "acompanhado de limpeza e/ou vocalizações sociais".

Outro comportamento de afeto é o de "saudação" que consiste numa "interação semelhante a um abraço entre um morcego já no poleiro e um morcego recém-chegado".

Segundo o estudo, "o morcego residente pode aproximar-se ou cumprimentar ativamente o recém-chegado à medida que este se aproxima da área principal de poleiro".

Este "abraço", se assim o pudermos chamar, assim como o "repouso/empoleiramento social" é visível nas imagens documentadas no estudo.

Família composta por quatro morcegos foi observada durante três meses

As imagens mostram uma família de quatro morcegos, os pais e os dois filhos, ao longo de três meses. Os adultos preocupam-se em dividir a comida com as crias, garantindo uma transição mais fácil "do leite para uma dieta carnívora, garantindo a ingestão adequada de alimentos e permitindo que eles pratiquem como manusear presas grandes".

De acordo com o documento, os comportamentos sociais detetados nesta 'família', tais como as ações que se assemelhavam a abraços, eram "observados diariamente".

Tietge acredita que o 'abraço' os ajuda a identificarem-se com base no cheiro e cria laços sociais necessários para a sobrevivência, além de "fortalecerem os laços dentro de seus pequenos grupos sociais, o que é crucial para os relacionamentos entre pais e filhos e entre machos e fêmeas".

O estudo foi conduzido em colaboração com a organização conservacionista Manzú, na Costa Rica, e apoiado pela estação de reserva natural “Estación Experimental Forestal Horizontes”, na Costa Rica.

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