O regresso do serviço militar obrigatório está a ser discutido em alguns países europeus, numa altura em que cresce a ameaça de um conflito na Europa devido à invasão da Rússia à Ucrânia. Em entrevista à SIC Notícias, o presidente da Associação de Praças entende que valorizar as carreiras e os salários dos militares é uma prioridade e uma solução mais eficaz para a retenção nas Forças Armadas.
Paulo Amaral entende que "faz sentido" trazer para a mesa a discussão da reintrodução do serviço militar obrigatório. Refere que a Associação de Praças defende mesmo que este serviço poderia até ser reintroduzido "com outro nome ou com outro modelo" e explica:
"A realidade de hoje é completamente diferente da realidade de 1989 e de 2004. Os jovens atualmente estão mais evoluídos e têm outro tipo de situação ao seu dispor. Contudo, o serviço militar obrigatório não será a panaceia para a questão da retenção nas forças armadas, para o recrutamento até poderá ser".
O problemas que atormentam as Forças Armadas
Acerca da retenção, Paulo Amaral afirma que o serviço militar obrigatório não irá resolver o problema. Para isso, aponta, "têm de ser resolvidas" algumas situações já identificadas pela Associação de Praças, tais como "a valorização das carreiras e a valorização salarial".
"Se retirarmos estas duas situações da equação, estamos a cometer um erro grave e, se calhar, ainda mais grave porque (...) se não conseguirmos criar condições para eles [os militares] continuarem nas Forças Armadas, isto é uma discussão que não leva a lado nenhum, sinceramente".
Sociedade atual "só quer ter direitos"
Para o presidente da associação a reintrodução do serviço militar é importante, uma vez que a sociedade atual "só quer ter direitos" e "está pouco disponível para dar algo em troca", pelo que diz ser essencial "despertar a cultura da defesa nacional" nos jovens.
Mas será essa uma tarefa fácil? Paulo Amaral acredita que não:
"Para isso estamos cá nós para tentarmos incutir este espírito nos jovens (...) O caminho foi interrompido em 1999 e, definitivamente, em 2004. Todo este trabalho terá de ser feito paulatinamente, vai dar trabalho, mas poderá vir a ser feito".
Diz ainda que a reintrodução do serviço militar "não pode ser um tema tabu", como acredita que ainda é. Nesse sentido, responsabiliza em parte os partidos políticos, que "não tiveram em consideração o tema" durante a campanha eleitoral para as últimas eleições legislativas.
Paulo Amaral revela ainda que a associação a que preside irá solicitar uma audiência ao novo ministro da Defesa, Nuno Melo, líder do CDS-PP, "para prestar cumprimentos e para levar algumas destas preocupações".