Geração 70

"Ninguém está preocupado com o sofrimento do animal, isso é pura hipocrisia"

Pedrito de Portugal fez uma pausa na carreira e está a viver em Espanha. Diz-se tranquilo com a vida longe das arenas mas admite saudades. Numa conversa de quase 50 minutos, o toureiro fala da “hipocrisia” das manifestações contra as touradas, da dor dos animais, mas também de política e religião.

NUNO FOX

Bernardo Ferrão

Mariana Óca Ferreira

Pedro Alexandre Roque Silva nasceu a 11 de fevereiro de 1975, em Lisboa. Filho de um bandarilheiro profissional, era ainda uma criança de 8 anos quando percebeu num concurso que tinha talento para tourear. Na adolescência, ganhou popularidade e foi-lhe concedida uma autorização especial pelo Governo para poder tourear antes de atingir a idade legal permitida em Portugal.

No início da carreira como “matador de touros” atuou sobretudo em Espanha e França, mas depois continuou pela América Latina, onde venceu diversos troféus. Sobre a tauromaquia, diz que é como qualquer outro espetáculo: “se os empresários apostarem num bom cartel as praças estão cheias”.

Quando questionado sobre o declínio da tauromaquia diz: "enquanto Deus entender que a tauromaquia tem um benefício, seja ele qual for, para a sociedade, vai continuar a existir. Quando não for assim, acaba naturalmente como acabou o Muro de Berlim".

“Ninguém está preocupado com o sofrimento do animal”

Em relação às manifestações do movimento abolicionista das touradas, aponta interesses políticos.

"Nós sabemos porque é que essas manifestações no Campo Pequeno existem. Há interesses políticos nomeadamente do PAN. Todas as pessoas que vão a essas manifestações cobram 25 euros para lá estar, se fosse grátis não estariam."

Pedrito de Portugal sublinha ainda aquilo a que chama hipocrisia: "Ninguém está preocupado com o sofrimento do animal, isso é pura hipocrisia de quem faz as manifestações que são um negócio".

"O touro não sofre. Não existe sofrimento, porque não existe dor”

Durante a conversa, Pedrito de Portugal lembra também os graves acidentes que sofreu em diversas praças de touros e fala ainda sobre o sofrimento dos animais.

"O touro não sofre. Não existe sofrimento, porque não existe dor. Eu já tive seis cornadas, já tive as pernas todas abertas, 20, 30 e 40 cms, e não morri de dor porque naquele momento nem se sente a dor", explica.

"As pessoas não vão a uma praça de touros para se alegrarem ou para satisfação com o sofrimento do animal. Isto não são os gladiadores da época romana. O toureiro põe a sua vida em risco e o animal também está a cumprir a sua missão. Não existiria a espécie de touro bravo se não existissem as corridas. O touro bravo é criado para ser toureado."

Aos 48 anos, Pedrito de Portugal está a viver em Espanha e trabalha no ramo imobiliário. A carreira de toureiro está por agora em pausa, desde a morte do treinador, Fernando Camacho. Tranquilo com a vida longe das arenas diz que sente saudades de entrar em casa das pessoas "para poder influenciá-las positivamente".

“Geração 70“ é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam.

Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.

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