Geração 70

Pedro Ribeiro: "Quando falo da infância na rua aos meus filhos acham que falo da era de Eça de Queirós"

Pedro Ribeiro é o convidado do Geração 70. Numa conversa com Bernardo Ferrão fala sobre a mudança geracional dos jornalistas e reflete sobre uma sociedade assente na cultura da imagem - “falta uma paixão no jornalismo”. Desconfiado da política e dos políticos, aponta, sem papas na língua, as falhas e oportunidades do país e dos governos para “acertar o passo”: o que ficou por fazer, o dinheiro que se “desperdiçou” e as “falências trágicas da democracia portuguesa”.

José Fernandes

Bernardo Ferrão

Mariana Óca Ferreira

Nasceu a 17 de fevereiro de 1971, em Lisboa. Da infância lembra as brincadeiras na rua e o rádio que estava em casa dos pais, em Oeiras - “era a coisa mais importante”, recorda numa das fotografias que trouxe para o podcast.

“A rádio sempre esteve presente”. Em criança, ouvia rádio “horas a fio” e conta que usava o gravador de cassetes do pai para fazer emissões, apresentar músicas e até cantar.

O pai era empregado bancário do antigo BES, viveu nos Estados Unidos, “nunca soube porque foi nem porque voltou”. A mãe trabalhava num escritório.

Queria ser jogador do Benfica e dar na rádio, um dos sonhos foi cumprido. É diretor da Rádio Comercial há 18 anos e líder de audiências.

Acorda desde 1996 às 5:30 e vive num misto a que chama “coisa esquizofrénica”: ser diretor dele próprio. Continua a fazer as manhãs da Comercial porque “ainda faço falta e porque gosto realmente de fazer rádio”.

Não entrou na Licenciatura em Comunicação Social e a reboque do boom das rádios piratas enviou o primeiro currículo para a Correio da Manhã Rádio. Tinha pouco para apresentar: “Era uma página em branco, com a minha morada. Tive sorte”.

O primeiro emprego foi “de sonho”, conta com ironia. Fazia madrugadas na rádio e talvez tenha sido por isso que nunca concluiu o curso de Relações Internacionais.

A infância na rua contrasta com os dias de hoje, “as crianças têm pavor de se aborrecer”. "É um mundo tão distante, quando falo dele aos meus filhos acham que estou a falar da era de Eça de Queirós.”


No país dos anos 70/80, na própria casa, era tudo a preto e branco, “ou eras fascista ou comunista”. Recorda como era evidente o “choque” entre a avó e o pai, que além de serem sogra e genro, o pai tinha um busto de Sá Carneiro e a avó - a avó Dulce - era militante do partido comunista.

Ainda o levou à Festa do Avante, tinha nove anos. Mas depois de uma viagem a Moscovo, a avó Dulce regressou “desiludida” e “traída” - “a partir daí adotou o autocolante que dizia ‘Soares é fixe’”.

Os tempos mudaram e a rádio também, andou à deriva, recuperou e prepara-se para um “novo futuro”: cada vez mais digital.

Nesta conversa com Bernardo Ferrão a mudança geracional dos jornalistas e a sociedade assente na cultura da imagem também são tema - “falta uma paixão no jornalismo”. Pedro Ribeiro assume-me ainda desconfiado da política e dos políticos.

“Geração 70“ é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam.

Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.

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