Nasceu em 1975, em Angola, em casa e ao "som dos tiros" que se ouviam na rua. Os pais, cabo-verdianos, mudaram-se para o país à procura de uma vida melhor, mas acabaram por fugir da guerra civil.
“Os meus pais fugiram com a roupa que tinham no corpo. A minha mãe perdeu um sapato a correr comigo ao colo para o avião”, conta.
Chegou a Portugal com meses e foi em Cacilhas, no concelho de Almada, na Margem Sul, que cresceu, que se tornou um homem “sem luxos”, que "acredita na Esquerda, no ideal Comunista e numa sociedade sem classes".
“Cheguei a comprar uma camisa branca, queria ser beto”
Carlão cresceu num bairro de onde “saíram todo o tipo de pessoas”. De membros do Governo como a ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, e o irmão, António Mendonça Mendes, secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, aos “bandidos e dealers que acabaram presos”.
“Vendia-se droga às claras e é claro que uma pessoa é fruto do seu habitat”, recorda.
Em casa falava-se muito pouco, os pais tinham “a cultura do trabalhar muito”. Em adolescente “quis pertencer a tudo” e “ser muita coisa”. “Cheguei a comprar uma camisa branca, queria ser beto e cuspiram-me nas costas, num bar”.
“Foi a música que me salvou”
No bairro de Cacilhas construiu uma vida e uma carreira. Confessa que a música acabou por salvá-lo dos caminhos sombrios e ajudou-o a não se “espalhar ao comprido”.
“Foi a música que me salvou. Quando gravava parava de usar (drogas)”, diz o músico.
A carreira seguiu e hoje não consegue falar do regresso dos Da Weasel - 10 anos depois - sem um brilho nos olhos. “Só com os anos é que ganhei consciência da real importância dos Da Weasel”, diz.
Durante a conversa com Bernardo Ferrão, Carlão assume-se como um homem de esquerda, porque acredita no ideal comunista. A meritocracia, que considera “uma das maiores mentiras dos últimos anos”, e a geringonça também foram temas de reflexão.
“Geração 70” é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.