País

Viticultores do Douro organizam mostra para tentar escoar produção da próxima vindima

Os viticultores do Douro receiam que se repitam as dificuldades do cenário do ano passado na venda do vinho. Para tentar escoar a produção da próxima vindima estão já a organizar uma mostra, numa altura em que vários operadores já anunciaram que não vão comorar as uvas deste ano.

Manuela Carneiro

Miguel Costa

Teresa Barbosa herdou as vinhas dos pais e no ano passado, pela 1.ª vez, não teve a quem vender toda a produção. Há anos que a família mantinha o negócio com um operador que, a apenas um mês da vindima, avisou que só ia ficar com uma parte das uvas. Não foi caso único.

"Fiquei sem chão, fiquei de repente a pensar onde é que eu vou colocar o resto das uvas e então poderei e disse: não, isto já não pode ser assim, temos de inverter a balança e temos de ser nós a decidir a quem é que vamos vender", diz a viticultora Teresa Barbosa.

"Há um grande excesso de produção, não se consegue exportar o suficiente e, portanto, há uma situação de stocks muito difícil hoje em dia, com muitas adegas a dizer que não vão comprar uvas este ano e que estão cheias e muitos agricultores depois preocupados em saber onde vão vender as suas uvas", acrescenta João Roda, também viticultor.

Teresa teve a ideia de fazer uma mostra de uvas. Uma forma de pôr em contacto com alguma antecedência os produtores com potenciais compradores.

"Nós não vimos trazer uvas, vamos trazer dados. Eu também idealizei a maneira dos dados que nós iriamos trazer, ou seja, onde estamos, o local onde estamos porque isso é muito importante, a quantidade de uvas que queremos negociar e as castas que temos para negociar", diz Teresa Barbosa

"Há muito tempo que defendemos que não basta vender a qualquer preço, é preciso vender a um preço justo que deixe ficar remuneração ao viticultor e que lhe permita ganhar dinheiro porque isto é uma atividade económica como outra qualquer", explica Rui Soares, da associação Prodouro.

A ideia é que não não se repita o problema da vindima de 2023, quando os operadores desistiram de comprar a produção como era habitual.

"Já temos informação de outros operadores que estão a fazer contactos com viticultores no sentido de ou não querem uva, ou porem limites à quantidade de uva que os viticultores podem entregar na vindima de 2024", conta Rui Soares

"Este ano vai ser muito pior, no ano passado cortaram-nos na quantidade, este ano, além de começarem já a cortar na quantidade, também nos estão a cortar no valor. Ou seja, já estão a tentar comprar uvas sem valor, sem preço. Vamos tentar comprar o que nos tem chegado, mas sem preço, o que para nós é completamente descabido", explica Teresa Barbosa.

Para os produtores é preciso tomar decisões antes da vindima. Com a venda de uvas antecipada e planeada esperam poder controlar melhor um negócio que já viu melhores dias.

Últimas