O arranque das comemorações dos 80 anos da libertação do campo de concentração de Buchenwald, em Weimar, no Leste da Alemanha, incluiu uma cerimónia de colocação de coroas de flores, contou com a presença de Jens-Christian Wagner, diretor da Fundação Buchenwald e do antigo Presidente alemão Christian Wulff. Destaque principal tiveram os sobreviventes presentes no evento, que são em número cada vez mais reduzido.
O campo de concentração de Buchenwald foi criado em 1937. Dos mais de 270 mil detidos, 56 mil morreram no campo, foram assassinados pelos nazis, morreram de fome ou em resultado de experiências médicas, antes da libertação do campo, a 11 de abril de 1945.
Naftali Fuerst, presidente do Comité Internacional de Buchenwald, deu o seu testemunho em memória das centenas de milhares de vítimas do Holocausto no campo de concentração.
"Aos 12 anos, eu estava sozinho, estive quase a morrer em Buchenwald após a marcha da morte. Hoje, aos 92 anos, represento 270 mil prisioneiros de Buchenwald, os mortos e os vivos.
Depois de 80 anos, carrego na minha alma a consciência do assassinato de 56 mil prisioneiros e suas mortes cruéis por trabalho forçado, fome, enforcamento com as mãos amarradas atrás das costas, por serem pendurados em ganchos na adega da tortura do crematório ou por um tiro no pescoço na chamada sala do médico," recorda Naftali Fuerst.
O sobrevivente do Holocausto esteve 50 anos em silêncio após a libertação do campo de concentração, mas atualmente é uma das vozes mais ativas pela memória das vítimas.
Entre os 9 e os 12 anos, Fuerst esteve em quatro campos de concentração diferentes, incluindo Auschwitz.
"Neste momento, já somos muito poucos. Em breve, passaremos definitivamente o testemunho da memória para vós. Ao fazê-lo, estamos a confiar-vos uma responsabilidade histórica", disse Fuerst dirigindo-se ao número cada vez menor de sobreviventes do Holocausto e aos seus familiares.
"Não podemos permitir que o mal volte a prevalecer"
Jens-Christian Wagner, diretor da Fundação Buchenwald, lembrou que o número de sobreviventes é cada vez mais reduzido e que testemunhos como o que Naftali Fuerst deixou são casa vez mais raros.
Wagner também destacou o que classificou como desafios enfrentados pelas democracias liberais em todo o mundo e expressou preocupação com a ascensão de ideologias de direita.
O antigo Presidente alemão Christian Wulff também deixou um alerta sobre a atual situação política global e a viragem à direita a que se tem assistido na Europa e em grande parte do mundo.
"Devido à brutalização e radicalização e a uma mudança mundial para a direita, posso agora - e isto deixa-me inquieto - imaginar mais claramente como isto poderia ter acontecido naquela época", disse Wulff referindo-se ao nascimento e consolidação do regime nazi na Alemanha.
"Temos uma responsabilidade permanente, contínua e eterna, porque não podemos permitir que o mal volte a prevalecer", apelou Wulff.