Mundo

"As crianças que vejo nos hospitais em Gaza estão gravemente subnutridas"

Em Gaza, três mil crianças estão em risco de morte imediata por falta de comida e cuidados médicos. O aviso é feito, na antena da SIC, pelo porta-voz da Unicef, a partir de Rafah de onde descreve uma situação dramática.

Pedro Miguel Costa

Já poucas frases restam para descrever como se vive em Gaza. A partir do território, o porta-voz da UNICEF tem acrescentado mais um pouco. Nas redes sociais ainda esta semana, James Elder dizia que a intenção do atacante tem ser clarificada, e esta sexta-feira, esclareceu à SIC o alcance do que partilhou.

"Podia ser o primeiro dia desta guerra, mas estamos quase no 250.º dia. Está a ser infligido tanto sofrimento a Gaza. As intenções devem agora, sem dúvida, ser claras: a completa devastação de Gaza. Na verdade, já aconteceu. (...) Quando vemos agora 13 mil, 14 mil crianças mortas, quando vemos todo o setor da pesca devastado, quando vemos o sistema de educação destruído, cerca de 95 professores universitários terão sido mortos, quando vemos dois terços das casas destruídas ou danificadas, a devastação sistemática de hospitais, isso diz alguma coisa", diz o porta-voz da UNICEF.

Pelas contas da UNICEF, três mil crianças podem morrer muito em breve em Gaza. Falta-lhes o acesso a cuidados médicos, sem hospitais abertos que cheguem para as tratar, e não têm acesso a alimentos, a ajuda humanitária fica na fronteira.

"As crianças que vejo nos hospitais estão gravemente subnutridas. Quando uma criança está gravemente subnutrida, o corpo quase que começa a alimentar-se a si próprio. Nessa altura, os médicos nem conseguem aplicar um intravenoso", explica.

Cerca de 19 mil crianças em Gaza estão órfãs. Perderam os pais, já nem vivem, apenas sobrevivem: “Um número assustador de pessoas já me disse - porque perderam um ente querido, a sua casa, o seu trabalho, estão numa tenta, não têm nada, as bombas continuam a cair, que esperam que um míssil os atinja, para que isto acabe”.

"Não aguentam mais. Já estive sentado com um menino que perdeu os pais e o irmão gémeo de 9 anos. Enquanto falava com ele, ele fechava os olhos durante um tempo. Perguntei-lhe porquê e ele disse que era porque não queria perder a imagem deles, dos pais, já que os tinha perdido fisicamente", conta James Elder.

Gaza vive uma catástrofe humanitária ainda sem fim à vista.

Últimas