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"Israel mobilizou 300 mil soldados em dois dias, o dobro do que a Rússia conseguiu em meses"

Ao sexto dia de ataques no Médio Oriente, o secretário de estado norte-americano está em Telavive. Germano Almeida explica o papel dos Estados Unidos neste conflito e lamenta que “mais uma vez quem vai pagar são os civis palestinianos em Gaza”, dada a ameaça de uma operação israelita em larga escala.

Germano Almeida

SIC Notícias

O chefe da diplomacia norte-americana chegou esta quinta-feira a Telavive. Antony Blinken vai reunir-se com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e tem encontro marcado com o Rei da Jordânia com o Rei e com o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas que perdeu o controlo de Gaza em 2007 para o Hamas. Os Estados Unidos apoiam Israel, mas estão claramente empenhados em "conter o risco de alastramento do conflito", explica Germano Almeida.

O comentador da SIC diz que "a administração Biden está a fazer dois coisas, primeiro a reforçar total apoio a Israel no momento mais difícil da História de Israel" e, por outro lado, "a tentar concertar com Israel aquilo que claramente sabemos que espera nos próximos dias".

"Biden mostrou preocupação relativamente àquilo que Israel vai fazer, ou seja, considera que perante o que aconteceu, Israel tem o direito de reagir, mas sabe que, tendo em conta o que é a Faixa de Gaza, sabe o risco de que se pode esperar um banho de sangue e, portanto, tentará avisar, Israel tem que respeitar o direito Internacional", realça Germano Almeida.

“Mais uma vez quem vai pagar são os civis palestinianos em Gaza”

Sobre a eventual intervenção de outros países da mediação do conflito, o comentador da SIC refere o "aproveitamento hipócrita da Rússia", com Vladimir Putin a referir que, na qualidade de membro do Quarteto para o Médio Oriente, com os Estados Unidos, União Europeia e ONU, poderia "fornecer a sua própria contribuição para este processo de resolução".

Os Estados Unidos, juntamente com o Egito, a Turquia e o Qatar, estão a procurar negociar a um corredor para dar ajuda humanitária à população em Gaza, mas Germano Almeida considera que o Egito "dificilmente aceitará um corredor de passagem dos civis porque se abrisse a fronteira de Rafah, em Gaza, com a fronteira do Egito com a Península do Sinai, estaríamos a abrir uma gigantesca crise de refugiados".

"Mais uma vez quem vai pagar são os civis palestinianos em Gaza, que dramaticamente e tragicamente estão neste momento encurralados, sabendo que os espera a maior ofensiva de Israel", lamenta.

A Faixa de Gaza não está fechada por causa desta crise, está fechada desde 2007, desde que o Hamas tomou o poder, há 80% da população já a precisar de ajuda mesmo antes deste este conflito.

"Os 300 mil soldados que em tempo recorde Israel conseguiu mobilizar em dois dias é o dobro do que a Rússia conseguiu mobilizar para a guerra da Ucrânia em meses, a Rússia tem 145 milhões de habitantes, Israel tem 9 milhões de habitantes. Há um sentimento existencial para Israel perante o ataque de que foi vítima", explica Germano Almeida, sublinhando também a elevada densidade populacional de Gaza, apesar da reduzida dimensão do território - 2 milhões de habitantes em 350 quilómetros quadrados.

"Por muito que Israel diga que o seu objetivo é derrotar o Hamas e desmontar o Hamas e a verdade é que não se vê como possa fazer isso sem provocar um banho de sangue. Acho que podemos assistir a algo de uma dimensão que infelizmente não se vê", realça.

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