O complexo onde fica situada a mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, é desde há décadas foco de tensão entre judeus e muçulmanos. O ataque sem precedentes do Hamas em Israel na manhã de sábado, 7 de outubro, terá sido uma ação de represália pela recente violência no complexo da mesquita, Santuário Nobre para muçulmanos e Monte do Templo para judeus.
A "Operação Tempestade Al-Aqsa", como foi designada pelo Hamas, foi uma iniciativa secreta até dentro do próprio grupo islâmico palestiniano. Em entrevista à Associated Press, um alto responsável do Hamas, Ali Barakeh, revelou alguns detalhes sobre a operação em Israel.
Ali Barakeh disse esta terça-feira que apenas um pequeno grupo de dirigentes do Hamas estava a par da ofensiva. Quanto às motivações da "Operação Tempestade Al-Aqsa", explicou que estão relacionadas com iniciativas do atual Governo ultranacionalista, liderado por Benjamin Netanyahu, incluindo incursões israelitas consideradas "provocadoras" na mesquita de Al-Aqsa, a detenção de milhares de palestinianos sem qualquer acusação nem julgamento e a forte convicção do Hamas de que Israel estaria a planear assassinar os líderes do grupo palestiniano.
A "Operação Tempestade Al-Aqsa" desencadeou uma ofensiva israelita em grande escala, com o objetivo de neutralizar as capacidades militares do Hamas.
Al-Aqsa: espaço sagrado para diferentes religiões, porquê?
Os muçulmanos consideram Al-Aqsa um local sagrado porque acreditam que o profeta Maomé viajou de Meca para essa mesquita para rezar, em 620 d.C., e depois da oração, subiu aos céus.
Este é considerado o terceiro lugar mais venerado pelo Islão, depois de Meca e de Medina, ambas na Arábia Saudita.
O Corão, livro sagrado para os muçulmanos, refere também a importância do local, onde vários profetas islâmicos fizeram peregrinações, como Abraão, David, Salomão e Elias.
Os judeus designam o complexo como Monte do Templo, aí acreditam que o rei Salomão construiu o primeiro templo há 3.000 anos e que um segundo templo judaico construído no local foi destruído em 70 d.C. pelos romanos.
Tradicionalmente, os judeus têm indicação dos seus líderes religiosos para não entrar no complexo do Monte do Templo, por ser considerado um espaço demasiado sagrado para pisar. O Governo israelita permite que judeus visitem o local apenas como turistas.
O local de oração dos judeus é o Muro das Lamentações, próximo do Monte do Templo e que acreditam ser o que resta do Templo de Salomão. Os Muros Ocidentais são, assim, considerados o sítio mais sagrado do judaísmo e ficam a pouca distância do Santo Sepulcro e do Monte das Oliveiras, locais venerados pelos cristãos.
Recorde-se o papel central de Jerusalém na história das três grandes religiões monoteístas - Capital do Rei David, onde Salomão construiu o seu templo e depositou a Arca da Aliança, como diz o livro sagrado dos judeus, a Torá. Para o Corão, o terceiro local mais sagrado por ter Maomé ali chegado após sua jornada de Meca. E a mesma cidade é também conhecida por ser o local da paixão e ressurreição de Jesus Cristo para os cristãos, de acordo com a Bíblia.
O complexo onde está localizada a mesquita de Al-Aqsa está no centro da disputa entre israelitas e palestinianos pelo controlo de Jerusalém. Ponto de tensão entre as duas partes, Al-Aqsa transformou-se num importante símbolo da luta palestiniana pela autodeterminação.
Segurança, visitas e administração
As forças de segurança israelitas garantem a segurança do complexo da mesquita de Al-Aqsa, cuja construção teve início no século VII, após a tomada de Jerusalém pelo califa Omar. Judeus e cristãos podem visitá-lo, mas durante anos foram impedidos de rezar no local para evitar confrontos. Recentemente, foi discretamente autorizado que os judeus rezassem neste lugar, embora neste ponto haja também divisão no seio da comunidade judaica israelita.
Os nacionalistas religiosos israelitas têm-se batido pelo direito a rezar neste espaço e, nesse sentido, a declaração de sábado do Hamas citou a oração judaica no complexo, classificando o que chamou de "agressão", que teria atingido "um pico nos últimos dias".
Por outro lado, um grande número de judeus israelitas prefere não rezar no Monte do Templo, para evitar a área que sabem ser um foco de tensão com palestinianos.
Israel conquistou Jerusalém Oriental à Jordânia durante a guerra israelo-árabe de 1967. Mais tarde declarou a cidade como capital de Israel, mas a decisão não foi reconhecida pela maior parte da comunidade internacional.
Nessa altura, a solução encontrada para administração do complexo de Al-Aqsa foi criar um fundo religioso financiado e supervisionado pela Jordânia, uma decisão formalizada só em 1994, num tratado de paz assinado entre Israel e a Jordânia.