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Israel, Dia 5. Um curto explicador sobre o que foi o Yom Kippur

O brutal ataque do Hamas em território israelita coincidiu praticamente com os 50 anos da Guerra do Yom Kippur, um acontecimento decisivo na história de Israel e que mudou o Médio Oriente para sempre.

Fred Ihrt/Getty Imagens

Ricardo Costa

Houve algum simbolismo na data do ataque do Hamas?

Sim, no dia 6 de outubro de 1973, o importante feriado religioso do Dia do Perdão, o Yom Kippur, o Egipto e a Síria lançaram um ataque que representou um dos momentos mais traumáticos da história de Israel. Apesar de ter conseguido uma clara vitória militar, os primeiros dias deixaram expostos as suas fragilidades e fizeram 2.800 mortos e mais de três mil feridos. Israel acabaria por vencer, mas essas primeiras horas ainda simbolizam, cinquenta anos depois, como um ataque surpresa bem planeado ia aniquilando o país. A operação do Hamas deste sábado, dia 7, fez soar as recordações de há 50 anos, nos dois lados do conflito.

O que foi o Yom Kippur?

Em resumo, o Egito atacou a península do Sinai, ocupada pelos israelitas, e a Síria avançou em simultâneo sobre os montes Golã, também sob o domínio de Israel desde a chamada Guerra dos Seis Dias, de 1967. Numa primeira fase, sobretudo no Sinai, as forças israelitas foram desbaratadas. A guerra duraria apenas 20 dias culminando com um cessar-fogo por intervenção das Nações Unidas.

Que efeitos teve o Yom Kippur no Médio Oriente?

As principais alterações no mapa tinham ocorrido em 1967, quando, depois de ter repelido um ataque do Egipto, Síria e Jordânia, Israel conquistou a Faixa de Gaza e a Península do Sinai ao Egipto, os Montes Golã à Síria e ocupou a Cisjordânia, com Jerusalém Oriental, então território jordano. As batalhas de 1973 mostram às duas partes que ninguém poderia vencer uma guerra de forma definitiva: se a vitória militar era israelita, a vitória política era árabe porque o mito da invencibilidade militar dos israelitas tinha sofrido um duro golpe. Foi isso que abriu caminho a uma distensão de relações com o Egipto e, mais tarde, em 1979, aos acordos de Camp David.

A Guerra do Yom Kippur teve efeitos económicos globais?

Sim. A 16 de outubro de 1973, a Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo, liderada pela Arábia Saudita, decidiu impor um embargo a uma lista de países encabeçada pelos Estados Unidos, Reino Unido, Holanda, Canadá e Japão, acusados de apoiarem Israel. O preço do petróleo disparou, provocando um choque económico global. O embargo também se veio a estender a Portugal, que, após pressão dos EUA, aceitou que a Base das Lages apoiasse a ponte aérea americana de apoio a Israel.

Portugal aproveitou o uso das Lages a seu favor?

Sim, mas sem grande resultado. Portugal estava completamente isolado nas Nações Unidas e não conseguia que França ou os EUA, por exemplo, vendessem as armas de que precisava para a Guerra Colonial, sobretudo na Guiné. A necessidade urgente do uso das Lages pelos EUA deu a Portugal um argumento para forçar os EUA a facilitarem essa venda de armas. Hoje, sabe-se que após muitos meses de negociações nos bastidores, Kissinger conseguiu ceder armas através de um estratagema que contornava um chumbo do Congresso Americano, utilizando um circuito secreto via Israel. Mas o processo secreto foi tão complicado que as armas só ficaram disponíveis… depois do 25 de abril.

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