Mundo

Papa vai beatificar mártires de igreja próspera e influente na Coreia do Sul

O Papa Franciscovai beatificar, na primeira viagem à Ásia, um nobre coreano do século XVIII, decapitado por ser católico, juntamente com 124 mártires, ato que representou o início da história de uma Igreja minoritária, mas dinâmica e politicamente influente.

Cerca de um milhão de fiéis deverá assistir à missa de beatificação, celebrada por Francisco no próximo sábado, na praça Gwanghwamun em Seul, ponto alto da visita papal à Coreia do Sul, de 13 a 19 deste mês.

O motivo oficial da viagem é a participação nas IV Jornadas Mundiais da Juventude Asiática, num país onde coexistem vários cultos: budistas,  evangélicos e pentecostais, entre outros. 

A visita à Coreia do Sul será seguida, em janeiro do próximo ano, de uma deslocação ao Sri Lanka e as Filipinas, o mais católico dos países asiáticos.

Ao longo dos 11 discursos previstos na Coreia do Sul, pobreza, corrupção,  mundialização e aborto não serão esquecidas pelo papa, que deverá convidar  a Igreja a manter-se próxima dos excluídos de um crescimento económico acelerado.

Além da homenagem à resistência de uma Igreja local, fundada por laicos  letrados, Francisco vai dedicar uma missa, em Seul, à reconciliação dos  coreanos. Mas a esperada vinda de católicos norte-coreanos, uma minoria  controlada e perseguida, não foi autorizada por Pyongyang.  

A religião católica foi introduzida na Coreia em 1784 por laicos letrados, conhecedores das Escrituras em chinês: foram eles os responsáveis pela evangelização,  até à chegada dos primeiros missionários franceses meio século depois.

Primeiro mártir católico da Coreia confuciana, Paul Yun Ji-chung foi  executado em 1791, ano em que começaram as perseguições. Mais de 10 mil pessoas morreram num século.

Em Seul, os mártires eram levados da praça Gwanghwamun a Seosomun, uma  das portas da cidade, onde estava o carrasco.

No sábado, o papa vai percorrer o mesmo caminho, no sentido contrário,  "para simbolizar a anulação da condenação dos mártires e a sua reabilitação",  explicou Joseph Lee Joon-seong, o padre encarregado do monumento dos mártires  em Seosomun.

Minoritária, a comunidade católica da Coreia do Sul é uma das influentes e dinâmicas da Ásia. No último recenseamento, que incluiu as práticas religiosas,  em 2005, perto de 30% dos sul-coreanos declararam-se cristãos.  

A maioria é protestante, mas a comunidade católica é a que regista um  crescimento mais rápido: atualmente conta 5,3 milhões de fiéis, um pouco  mais de 10% da população.  

É também aquela cuja influência ultrapassa em muito o peso demográfico,  ao ponto de ser, por vezes, identificada como "a Igreja dos ricos" e da  classe política: pelo menos 20% dos deputados afirmam ser católicos e dos  seis presidentes eleitos, desde as primeiras eleições livres em 1987, três  eram cristãos praticantes, e um era católico. A atual chefe de Estado, Park  Geun-hye, foi batizada católica, mas não é praticante.  

O desenvolvimento do cristianismo coincidiu com a urbanização galopante  do país, depois da Guerra da Coreia (1950-53).  

Sem estruturas seculares, despojados de uma vida rural de estrutura  quase feudal, os novos habitantes das cidades procuravam amarras sociais,  que encontraram na Igreja.  

As paróquias também beneficiaram com as conclusões do Concílio Vaticano  II, que permitiu passar a rezar a missa em coreano e não apenas em latim.

Mas foi o papel ativo da Igreja católica na oposição ao regime militar,  nas décadas de 1970 e 1980, que lhe conferiu o seu estatuto.

Lusa

Últimas