Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: novos sinais de uma China pró-russa

As declarações muito preocupantes do embaixador chinês em Paris, sobre uma suposta "falta de soberania" dos países do espaço pós-soviético. Lavrov com Guterres na ONU. As novas perspetivas da contraofensiva ucraniana. E os bombardeamentos russos, que prosseguem. A análise do comentador da SIC, Germano Almeida.

Bandeiras da Rússia e da China numa praça em São Petersburgo, na Rússia
Dmitri Lovetsky

Germano Almeida

1 – O embaixador chinês e as fronteiras pós-soviéticas

Lu Shaye, diplomata chinês em França, apelou ao fim das disputas sobre a questão das fronteiras pós-soviéticas. "Agora o mais urgente é parar, alcançar o cessar-fogo" entre a Rússia e a Ucrânia. Mas na entrevista dada ao canal francês TF1, o embaixador chinês em Paris considerou que "não há nenhum acordo internacional que materialize o seu estatuto de países soberanos" e não conseguiu dar uma resposta concreta quando questionado se "a Crimeia faz parte da Ucrânia".

Sobre a Crimeia, afirmou: "Depende da forma como se olha para este problema. Há uma história. A Crimeia foi da Rússia no início. Foi Khrushchev que deu a Crimeia à Ucrânia na época da União Soviética". O Ministério dos Negócios Estrangeiros francês declarou que "tomou nota com consternação" destas observações, pedindo à China que "diga (se) refletem a posição" de Pequim. "Esperamos que não seja o caso".

Vários países reagiram de imediato às declarações do diplomata chinês. Vadim Omelchenko, destaca as diferenças entre as declarações de Lu Shaye e a postura oficial de Pequim.

"Ou este homem tem problemas óbvios com a geografia, ou as suas declarações contradizem a posição de Pequim 'sobre os esforços para restaurar a paz na Ucrânia com base no direito internacional e nos propósitos e princípios da Carta da ONU'".

Borrell, Alto Representante das Relações Externas da UE, considera "inaceitáveis" declarações de embaixador chinês sobre países pós-soviéticos que se tornaram independentes. E questionou o "estatuto efetivo" dos países pós-soviéticos perante o Direito Internacional.

"Comentários inaceitáveis do embaixador chinês em França questionando a soberania dos países que se tornaram independentes com o fim da União Soviética em 1991", disse Josep Borrell, frisando que "a União Europeia só pode assumir que estas declarações não representam a política oficial da China".

2 – Jack Teixeira terá começado a divulgar informação classificada logo após a invasão russa

Jack Teixeira, acusado de divulgar documentos de defesa classificados dos Estados Unidos em redes sociais, publicou informações confidenciais meses antes daquilo que até agora se sabia e junto de um grupo muito maior de utilizadores, de acordo com uma investigação do jornal norte-americano "New York Times".

Em fevereiro de 2022, logo após a invasão da Ucrânia, um perfil de utilizador correspondente ao do membro da Guarda Aérea Nacional começou a divulgar informações secretas sobre o esforço de guerra russo num 'chat room' que contava com cerca de 600 membros na plataforma Discord.

As informações agora descobertas incluíam detalhes sobre baixas russas e ucranianas, atividades dos serviços de espionagem de Moscovo e atualizações sobre a ajuda prestada à Ucrânia. O utilizador alegou estar a publicar informações da Agência de Segurança Nacional, da CIA e de outras agências.

3 – Lavrov com Guterres ou a Rússia a aproveitar a Presidência do Conselho de Segurança para condicionar acordo dos cereais

A visita às Nações Unidas do ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, hoje e amanhã, focar-se-á em temas como o acordo dos cereais ou o "verdadeiro multilateralismo", enquanto prossegue a invasão russa da Ucrânia.

Lavrov viajará para Nova Iorque no âmbito da presidência russa do Conselho de Segurança da ONU - durante o mês de abril - e presidirá a dois debates, sobre o multilateralismo e o Médio Oriente. O chefe da diplomacia russa não perderá a oportunidade para discutir diretamente com o secretário-geral da ONU, António Guterres, a continuidade do acordo dos cereais do Mar Negro e o descontentamento de Moscovo com a falta de cumprimento de certos aspetos da iniciativa.

"Lavrov espera presidir a duas reuniões, uma sobre multilateralismo e outra sobre o Médio Oriente, ambas abertas a debates. As duas questões são atuais. O verdadeiro multilateralismo e o falso multilateralismo estão a ser amplamente discutidos, referidos e interpretados de forma diferente pelos Estados-membros da ONU", anteviu o embaixador russo junto à ONU, Vasily Nebenzya.

"Gostaríamos de falar sobre o que consideramos ser o verdadeiro multilateralismo", adiantou o diplomata, cujo país invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.

4 – Ucrânia deve quebrar corredor terrestre entre a Rússia e a Crimeia para uma contraofensiva

O Instituto para o Estudo da Guerra avançou análise favorável ao cenário de avanços para uma contraofensiva ucraniana na primavera, após a forma bem-sucedida como conseguiu estabelecer posições no lado oriental do rio Dnipro.

As tropas ucranianas tinham estabelecido uma base de apoio próxima da cidade de Oleshky, bem como "linhas de abastecimento estáveis".

Os analistas acreditam que o objetivo mais importante para Kiev avançar com uma contraofensiva na primavera passa por quebrar o corredor terrestre entre a Rússia e a Crimeia.

Na televisão ucraniana, a porta-voz do comando operacional austral da Ucrânia, Natália Humeniuk, referiu que "ultrapassar um obstáculo como o Dnieper" é "um trabalho muito difícil", uma vez que a linha da frente tem de atravessar um rio largo.

5 – Rússia utiliza passaportes como instrumento de "Russificação" das áreas ocupadas

Os serviços de informação britânicos indicam que "a Rússia está a utilizar os passaportes como instrumento de "Russificação" das áreas ocupadas", tal como fez em Donetsk e Luhansk antes da invasão de fevereiro de 2022.

A Defesa britânica refere que os residentes em Kherson foram avisados que se não aceitarem um passaporte russo até 1 de junho, serão deportados e os seus bens apreendidos. Ontem, os russos fizeram 28 ataques aéreos contra a Ucrânia, 10 dos quais usando vários sistemas de lançamento de foguetes contra infraestruturas e áreas povoadas, gerando vítimas civis e danos ou destruição de vários edifícios residenciais ou outros, segundo balanço diário Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia.

Em sentido oposto, a Força Aérea ucraniana lançou 11 ataques contra posições russas ao longo do dia, tendo abatido duas aeronaves UAV do 'inimigo', informou ainda a instituição.

A ameaça de ataques aéreos russos com mísseis em todo o território da Ucrânia continua alta, e "as batalhas mais ferozes estão em curso em Bakhmut e Maryinka", destacou o Estado-Maior ucraniano.

6 – Rússia expulsa 20 diplomatas alemães

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia anunciou a expulsão de "mais de vinte" diplomatas alemães, em resposta a uma medida semelhante alegadamente tomada por Berlim, mas não confirmada pela Alemanha.

"Mais de 20" diplomatas alemães foram expulsos da Rússia, disse a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, à televisão Zvezda.

Berlim não confirmou a expulsão de diplomatas russos, indicando apenas ter estado "em contacto" com Moscovo "nas últimas semanas sobre questões de pessoal".

Anteriormente, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia emitiu um comunicado anunciando "medidas retaliatórias" após "a nova expulsão em massa" de diplomatas russos na Alemanha. "Condenamos veementemente estas ações de Berlim, que continuam a destruir (...) todo o leque das relações russo-alemãs, incluindo a sua dimensão diplomática", criticou a diplomacia russa.

7 – Rússia diz ter neutralizado ataque com drone na Crimeia

As autoridades russas que lideram o poder na Crimeia, desde a anexação de 2014, dizem que as forças russas no Mar Negro neutralizaram um ataque com drone ao porto de Sevastopol.

"De acordo com a última informação disponível, um drone foi destruído e um segundo terá explodido por si próprio", escreveu o governador local Mikhail Razvozhaev, no Telegram.

"Agora a cidade está tranquila mas todas as forças e serviços continuam em alerta", acrescentou o responsável, notando que o incidente não terá causado danos.

8 – Russos atacam Kherson e lançam bombas sobre um cemitério

As tropas russas bombardearam um cemitério na vila de Havrylivka, na região de Kherson, onde também lançaram ataques com artilharia e bombas aéreas guiadas nas vilas de Bilozerka e Stanislav, destruindo casas, instalações agrícolas, e ferindo três civis, segundo informou a Procuradoria-Geral da Ucrânia.

"Foram iniciadas investigações prévias ao julgamento sobre violação das leis e costumes da guerra", adiantou a Procuradoria-Geral, explicitando que "em 2023, o inimigo mais uma vez bombardeou os assentamentos das comunidades de Bilozerka e Stanislav na região de Kherson, e pelo menos três civis sofreram ferimentos de vários graus".

Militares russos bombardearam a aldeia de Kizomys na região de Kherson, ferindo duas mulheres. O bombardeamento no cemitério na vila de Havrylivka ocorreu com a presença de muitas pessoas.

9 – Russos receberam novo lote de drones de fabrico iraniano

As forças russas receberam mais um novo lote de drones Shahed de fabrico iraniano, que já estão a utilizar para tentar detetar sistemas de defesa aérea ucranianos. Natalia Humeniuk, porta-voz do Comando Operacional militar, enfatizou: "Percebemos que este é outro lote pela marcação, e constatamos que essas munições imundas são lançadas quase todas as noites para atingir as regiões da Ucrânia", enfatizou a

"Obviamente, como os seus 'stocks' foram reabastecidos e agora eles (russos) tentam detetar a nossa defesa aérea".

10 – Navios de guerra e submarinos russos prontos para combate no Mar Negro

O comando operacional no sul da Ucrânia revelou que onze navios de guerra russos, incluindo dois submarinos equipados com mísseis de cruzeiro Kalibir, estão prontos para combate no Mar Negro.

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