Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: de novo a ameaça nuclear

Putin volta a agitar o medo da destruição total e, de uma assentada, mostra um ascendente coercivo sobre a Bielorrússia. Em Pequim, a “ambiguidade” é cada vez menos equilibrada. Um artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Gavriil Grigorov

Germano Almeida

1 – RÚSSIA VAI COLOCAR ARMAS NUCLEARES TÁTICAS NA BIELORRÚSSIA

A Rússia chegou a acordo com a Bielorrússia para colocar armas nucleares táticas no país de Lukashenko.

Minsk já tinha manifestado disponibilidade para instalar armas nucleares, na sequência do conflito na Ucrânia. Segundo Putin, o acordo não coloca em causa o Tratado de Não Proliferação Nuclear. "Eu e Lukashenko acordamos que iremos colocar armas nucleares táticas na Bielorrússia sem violar o regime de não-proliferação”, declarou o Presidente russo. “Não vamos entregar o controlo das armas nucleares”. O Presidente russo disse que vai apenas seguir os passos dos Estados Unidos.

Numa entrevista à agência EFE em Santo Domingo, República Dominicana, à margem da Cimeira Ibero-Americana, Josep Borrell disse que o anúncio feito pelo Presidente russo, Vladimir Putin, é também "mais um sinal da colaboração do regime ditatorial da Bielorrússia com a Rússia". "Demonstra que temos razão quando tomamos medidas contra o regime da Bielorrússia", quando se adotam sanções, acrescentou.

A Campanha Internacional pela Abolição de Armas Nucleares condenou o anúncio de Putin: “Enquanto ele tiver armas nucleares, a Europa não estará a salvo. Putin justifica esta perigosa escalada com décadas de partilha nuclear entre os países da NATO. Enquanto os países continuarem a ser cúmplices em considerar que as armas nucleares não são um problema global, isto ajudará Putin a prosseguir com este tipo de comportamento”, disse o diretor executivo interino da ICAN, Daniel Hoegsta.

2 – UCRÂNIA ESTARÁ A “CONSEGUIR ESTABILIZAR” SITUAÇÃO EM BAKHMUT

A Ucrânia diz estar a “conseguir estabilizar” a situação em Bakhmut, uma cidade que está a ser palco de uma das mais longas e sangrentas batalhas desta guerra. Ao telefone com um almirante britânico, o líder das Forças Armadas ucranianas, Valery Zaluzhny, terá dito na noite de sexta-feira que “a dureza da batalha é maior na direção de Bakhmut”, mas “graças aos enormes esforços das nossas forças defensivas, estamos a conseguir estabilizar a situação”.

3 – ZELENSKY AVISA PARA DESACELERAÇÃO DA CONTRAOFENSIVA POR FALTA DE MUNIÇÕES

"A situação, neste momento, não é boa. Não temos munições", disse Volodymyr Zelensky, durante uma entrevista ao diário japonês Yomiuri Shimbun, no meio de um impasse nos combates na cidade de Bakhmut, um dos atuais epicentros do conflito, onde as forças russas e ucranianas estão paralisadas após semanas de um grande desgaste. "Não há como iniciar uma contraofensiva agora. Sem tanques ou artilharia, não há como enviar soldados para a frente", lamentou Zelensky, que realizou esta semana uma visita a esta frente de batalha.

Segundo uma estimativa dos serviços secretos britânicos, divulgada este sábado, o impasse nos combates em Bakhmut terá levado Moscovo a adotar um novo rumo nas operações para reforçar as posições conquistadas nas proximidades da cidade.

4 – MAIS DE UM TERÇO DOS UCRANIANOS CONHECE ALGUÉM MORTO OU FERIDO NA GUERRA

De acordo com um estudo, 37% dos ucranianos diz ter um parente ou conhecido que foi ferido ou morto desde o início da guerra.

O Razumkov Center, centro ucraniano de estudos económicos e políticos, sediado em Kiev, é o autor do estudo que aconteceu entre fevereiro e março. Os resultados mostram também que 28% dos inquiridos têm familiares próximos que deixaram o país desde o início da invasão. Destes inquiridos 47% disseram ter as suas pessoas chegadas na Polónia, 18.5% na Alemanha e 9% na República Checa.

Mais de oito milhões de ucranianos já terão deixado o seu país desde 24 de fevereiro de 2022. A Ucrânia não divulga o número de baixas militares deste conflito, contudo, segundo o Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas, 8.317 civis já terão morrido e 13.892 terão ficado feridos desde a invasão russa e até ao dia 20 de março. No entanto, estes números não incluem as baixas em territórios ocupados e zonas de conflito muito acentuado.

5 – MAIS DE CINCO MIL SOLDADOS RECRUTADOS NAS PRISÕES PARA LUTAR PELO GRUPO WAGNER SERÃO AMNISTIADOS

Mais de cinco mil soldados, que foram recrutados nas prisões para lutar pelo grupo Wagner, vão ter os seus crimes perdoados. A garantia foi deixada pelo fundador do grupo de mercenários, Yevgeny Prigozhin, que após terem sofrido grandes baixas no último ano procuraram novos soldados entre os milhares de homens condenados a penas de prisão com a condição de que, no final do contrato, seriam perdoados.

“Neste momento, mais de cinco mil pessoas foram libertadas devido ao perdão após terem cumprido o seu contrato com o Wagner”. Prigozhin deixa ainda a garantia de que apenas 0,31% dos homens perdoados neste contexto voltaram a cometer algum tipo de crime após regressarem à liberdade. E diz que isso significa ser entre 10 e 20 vezes inferior aos habituais indicadores.

6 – EUA GARANTEM INTEGRIDADE TERRITORIAL DA ÁSIA CENTRAL

O Presidente dos EUA, Joe Biden, defendeu a integridade territorial da Ásia Central perante uma eventual ameaça russa, num telegrama enviado ao líder do Turquemenistão, Serdar Berdimuhamedov. Biden expressou o seu apoio "à soberania e integridade territorial da Ásia Central", região visitada recentemente pelo secretário de Estado Blinken. Biden destacou a solidez das relações bilaterais desde a independência da república banhada pelo mar Cáspio, em 1991, e felicitou o povo turquemeno pelo festival "Nowruz", que comemora a chegada da primavera.

Os países da Ásia Central não aderiram às sanções ocidentais contra a Rússia, mas defendem uma solução diplomática e não apoiam a anexação russa de quatro regiões ucranianas, que foi inclusive rejeitada publicamente pelo Cazaquistão. No entanto, os cinco países da Ásia Central - Cazaquistão, Usbequistão, Turquemenistão, Tajiquistão e Quirguistão - abstiveram-se ou não votaram a resolução da ONU adotada há um mês para instar a Rússia a retirar as suas tropas e a pôr fim à guerra.

7 – ERDOGAN ELOGIA “ATITUDE POSITIVA” DE PUTIN SOBRE INICIATIVA DO MAR NEGRO

Tayyip Erdogan esteve ao telefone com Vladimir Putin e, na conversa, o Presidente turco agradeceu ao homólogo russo pela “sua atitude positiva” ao alargar a iniciativa Cereais do Mar Negro, tendo ainda sido discutidos alguns passos para melhorar a relação entre os dois países, independentemente da guerra na Ucrânia. Erdogan terá ainda reiterado a necessidade de pôr fim à guerra e entrar em negociações o mais brevemente possível. O líder turco saudou a aprovação pela Rússia de uma prorrogação de 60 dias dos Acordos de Istambul sobre o transporte de cereais ucranianos dos portos do Mar Negro e o desbloqueio das exportações russas de fertilizantes e alimentos.

8 – PUTIN DIZ QUE RÚSSIA NÃO FARÁ ALIANÇA MILITAR COM A CHINA

“Não vamos fazer qualquer aliança militar com a China”, garante Putin.

Numa comunicação país transmitida na televisão, Vladimir Putin disse que a Rússia e a China não estão a preparar qualquer aliança militar com Pequim. “Não vamos fazer qualquer aliança militar com a China. Sim, temos uma cooperação na esfera da interação técnico-militar. Não escondemos isso. Tudo é transparente, não há nada secreto”, insistiu o Presidente russo. No entanto, Putin acusou ainda as potências ocidentais de estarem a construir “novos eixos” de uma cooperação que, disse, pode ser comprável à que existiu entre a Alemanha e o Japão durante a Segunda Guerra Mundial.

9 – BIDEN GARANTE QUE CHINA NÃO FORNECEU ARMAMENTO À RÚSSIA

O Presidente dos EUA diz que a China ainda não deu armas à Rússia, mas isso não significa que não o venham a fazer.

"Há três meses que ouço dizer que a China vai fornecer armas significativas à Rússia. Isso não significa que não o façam, mas ainda não o fizeram", apontou Biden durante uma visita ao Canadá. "Eu não levo a China de ânimo leve. Não levo a Rússia de ânimo leve", acrescentou, considerando que os relatos da aproximação entre os dois países terão sido, provavelmente, "exagerados". Por outro lado, Joe Biden apontou a ligação cada vez mais forte entre os países ocidentais: "Se alguma coisa aconteceu, é que o Ocidente apertou consideravelmente", disse, referindo-se a uma coligação "unida".

10 – RÚSSIA QUER PROIBIR AÇÃO DO TPI

Moscovo quer proibir ação do TPI (sinal que não é indiferente ao tribunal que ordenou o mandado de detenção internacional contra o Presidente russo).

Vyacheslav Volodin, presidente da Duma da Rússia e aliado de Vladimir Putin, defendeu a necessidade de alterar significativamente a lei para que qualquer atividade do TPI seja proibida em território russo. Aliás, é ainda proposto que qualquer pessoa que “preste assistência e apoio” seja punida. “É necessário trabalhar nas nossas alterações legislativas para proibir as atividades do TPI no território do nosso país”, escreveu o deputado no Telegram, alegando que os EUA já têm legislação que impede os seus cidadãos de serem julgados pelo TPI.

Na semana passada, o TPI emitiu um mandado de captura do Presidente russo.

Últimas