Eleições nos EUA

DIA D-72: que peso terá o "voto oculto" em Trump?

Opinião de Germano Almeida. Será que há mesmo um núcleo de uns 5% de eleitores que tem medo ou vergonha de dizer nas sondagens que vai votar em Donald Trump? E será que o debate entre os ‘vices’ vai ter, desta vez, uma grande importância?
Michael M. Santiago/Getty Imagens

Germano Almeida

1 – Haverá mesmo uma “espiral do silêncio”?

Será que há mesmo um núcleo de uns 5% de eleitores que tem medo ou vergonha de dizer nas sondagens que vai votar em Trump? Se isso em 2016 pode ter tido algum peso, em 2020 Trump perdeu para Biden nas urnas, mas, ainda assim, desempenhou melhor do que as últimas sondagens apontavam.

No Wisconsin, no Michigan e na Pensilvânia, Biden chegou ao dia da eleição geral com 4 ou 5 pontos percentuais de vantagem, mas na verdade as diferenças foram bem menores: +2.7 no Michigan, +1.2% na Pensilvânia, +0.6% no Wisconsin.

Nas intercalares de 2022 foi ao contrário: o "voto oculto" estava em quem pretendia travar a vitória dos candidatos trumpistas "deniers" do que aconteceu em novembro de 2020. Como será desta vez?

2 – A suprema importância do Supremo

O Supremo Tribunal dos EUA é o pilar de um complexo sistema de poderes e contrapoderes. Nesta corrida 2024 pode mesmo decidir esta eleição. Depois da nomeação da juíza Barrett, em 2020, a base conservadora conseguiu fazer valer a agenda ideológica.

Mas pode também ser fator de mobilização para a esquerda votar Kamala e, com Harris na presidência e possível maioria democrata no Senado, lançar a questão da reforma do Supremo, proposta pelo Presidente Biden, para compensar desequilíbrio na balança (6-3).

Desde Nixon que nenhum Presidente conseguia nomear três juízes – mas nenhum tinha feito em apenas um mandato. Dos nove juízes do Supremo, Trump nomeou um terço deles e, precisamente, os mais novos: Amy Barrett (52 anos), que ocupou a vaga de Ruth Ginsberg, falecida pouco antes da eleição 2020, Neil Gorsuch (57) e Brett Kavanaugh (59). O mais velho, o juiz Stephen Breyer, de 86 anos, abdicou entretanto, dando espaço a Ketanji Brown Jackson, de 53 anos, primeira mulher negra no Supremo e de tendência liberal.

As outras duas liberais são também mulheres: Sonia Sotomayor (70 anos) e Elena Kagan (64 anos), ambas nomeadas por Barack Obama. Os republicanos aproveitaram em tempo recorde a junção de terem ao mesmo tempo um Presidente e uma maioria no Senado (sem “filibuster” de bloqueio democrata). Será o maior legado deste mandato de Trump – junto do seu eleitorado natural, pelo menos.

Mas não deixa de ser chocante ver a juíza Barrett, já depois de confirmada e depois de ter garantido no Senado que nunca usará motivações políticas ou partidárias nas suas decisões, participar numa cerimónia ao lado do Presidente de celebração dessa confirmação. A revogação do Roe vs Wade, que terminou com a proibição federal de haver estados que possam criminalizar o aborto, já foi uma consequência disso. Kamala promete fazer regressar o Roe vs Wade pela via da vitória eleitoral e isso parece estar a ser mobilizador. Como já foi nas intercalares de 2022.

Uma interrogação: será que o debate entre os vices vai ter, desta vez, uma grande importância?

Um Estado: Oklahoma

- O Oklahoma tem 3,9 milhões de habitantes:

  • 73% brancos;
  • 9,5% nativo-americanos;
  • 7,9% negros;
  • 2,8% asiáticos;
  • 28.º estado com maior população;
  • 29.º estado mais rico da União

Resultado em 2020: Trump 65,4%-Biden 32,3%

Resultado em 2016: Trump 65,3%-Hillary 28,9%-Weld 5,8%

Resultado em 2012: Romney 66,6%-Obama 33,3%

Resultado em 2008: McCain 65,7%-Obama 34,6%

Resultado em 2004: Bush 65,6%-Kerry 34,4%

O Estado de Oklahoma vale 7 votos no Colégio Eleitoral

Uma sondagem:

PENSILVÂNIA -- Trump 47 / Kamala 46

(InsiderAdvantage, 18 e 19 agosto)

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