1 - Tim Walz, um tipo normal
Tim vestiu o equipamento de “Coach Walz” e aqueceu a Convenção. O candidato do partido à vice-presidência aproveitou o palco em Chicago para provar que é "um tipo normal". “Estamos no quarto quarter [última parte num jogo de futebol americano]. Estamos a perder por um golo, mas estamos a atacar e somos nós que temos a posse de bola. Estamos a avançar no campo e, acreditem, temos a equipa certa.” Alguns dos seus antigos jogadores, agora adultos, subiram ao palco para elogiar a escolha de Kamala.
Em apenas 15 minutos, este pai de família tradicional, natural do Midwest, treinador, professor, caçador e veterano da Guarda Nacional do Exército, mostrou que se pode ser isso tudo e mesmo assim um democrata que defende as minorias. Focou-se na defesa da Liberdade: “Quando os republicanos usam a palavra ‘liberdade’, eles querem dizer ‘liberdade para o governo invadir o consultório do vosso médico’. Empresas livres para poluir o vosso ar e água e bancos com carta verde para explorar os seus clientes. Mas quando nós, democratas, falamos de liberdade, falamos da liberdade para tornar melhor a vossa vida e a daqueles que amam. Liberdade para tomarem as vossas próprias decisões quanto à vossa saúde e liberdade para os vossos filhos irem para a escola sem se preocuparem em serem mortos a tiro nos corredores”.
“Alguns não entendem o que é preciso para se ser um bom vizinho”, apontou, numa indireta a Trump e Vance. E sobre o Project 2025: “Eu já fui treinador de futebol americano no ensino secundário e confiem em mim quando digo: quando alguém gasta tempo a criar um manual, vai usá-lo. É uma agenda que ninguém pediu. É uma agenda que não serve ninguém exceto os mais ricos e extremistas entre nós. E é uma agenda que não faz nada pelos nossos vizinhos que necessitam de ajuda. É estranho? Absolutamente. Absolutamente. Mas também é errado e perigoso.”
Bill Clinton, que fez anteontem 78 anos, lembra que ainda é mais novo que Trump e já deixou de ser Presidente há 24 anos; esteve sempre em cima de Trump: “A próxima vez que o ouvirem, não contem as mentiras: contem os "eus"; Clinton discursou perante um partido muito distante das políticas que o antigo líder apoiava nos anos 90. Tornou-se no terceiro presidente dos Estados Unidos a marcar presença na convenção e a estender a passadeira a Harris. Clinton comparou Joe Biden a George Washington e tal como o casal Obama, estabeleceu uma divisão entre os dois candidatos. “Em 2024, temos uma escolha clara: 'Kamala Harris, para o povo' versus o outro candidato que é pelo 'Eu, eu mesmo e eu'. Eu sei o que é melhor para o nosso país.”
Já Nancy Pelosi atirou: “Não nos esqueçamos de quem atacou a democracia a 6 de janeiro. Foi ele.” E Josh Shapiro: “Nós somos o partido da verdadeira liberdade”, disse o governador da Pensilvânia resumindo a mensagem da noite. “Estão prontos para defender a nossa democracia?”, questionou, perante uma audiência excitada. “América, vamos ao trabalho!”
2 - Sim, ela pode
Durante o poderoso discurso de Barack Obama, o público da Convenção foi lançando, de forma aparentemente espontânea, um novo slogan para a campanha Kamala: “Yes She Can!”. Barack concordou logo e foi na onda: "Precisamos de um presidente que realmente queira saber dos milhões de pessoas que se levantam todos os dias e fazem trabalho essencial. Que defenda os seus direitos a negociar melhores salários e condições de trabalho. Sim, ela pode”.
É certo que Kamala Harris não teve dificuldade em arranjar um lema para a sua jornada inesperada de 2024: “When we fight we win” (quando lutamos, vencemos), que emergiu, com naturalidade, da forte e enérgica reação da base democrata, após a desistência de Joe Biden. Mas as campanhas presidenciais nos EUA fazem-se, também, destes momentos espontâneos. A partir de agora, Kamala tem dois slogans poderosos a explorar. E ambos fazem sentido para aquilo que tem sido o seu caminho, no pós desistência de Biden.
Barack Obama não esqueceu também a importância do trabalho do ainda Presidente no que vier a ser a sorte desta campanha democrata: "A História vai lembrar Joe Biden como um presidente excecional que defendeu a democracia do perigo iminente", afirmou Obama, destacando o altruísmo da desistência, "uma das coisas mais raras em política".
Uma interrogação: Como será o discurso desta noite de Kamala Harris?
Um Estado: Virgínia Ocidental
- A Virgínia Ocidental tem 1,8 milhões de habitantes:
- 92,1% brancos
- 0,7% asiáticos
- 3,4% negros
- 39.º maior em população
- 49.º mais rico da União
Resultado em 2020: Trump 68,6%-Biden 29,7%
Resultado em 2016: Trump 68,5%-Hillary 26,4%
Resultado em 2012: Romney 62,2%-Obama 35,5%
Resultado em 2008: McCain 55,6%-Obama 42,5%
Resultado em 2004: Bush 56,1%-Kerry 43,2%
A Virgínia Ocidental vale 4 votos no Colégio Eleitoral
Uma sondagem:
Voto popular nacional - Kamala 46 / Trump 43 / Kennedy 3
(Economist/YouGov, 17 a 20 agosto)