Esta terça-feira, foi a vez de a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, e o líder do Chega, André Ventura, se confrontarem num debate que trouxe à tona as grandes diferenças entre os dois partidos.
O tema de arranque foi a habitação, com Mariana Mortágua a trazer prontamente ao debate a reintrodução dos vistos gold proposta pelo Chega. "São uma porta aberta para a corrupção", disse a bloquista nos primeiros minutos - uma frase que viria a repetir várias vezes ao longo do debate.
À defesa, Ventura argumentou que o programa do Chega toca nas duas vertentes da habitação - na oferta e na procura - ao contrário do que faz o do Bloco de Esquerda. "Programa do Bloco não se preocupa em construir mais, em dar mais benefícios", apontou.
Mortágua volta a atacar e diz que Ventura está preocupado com os interesses imobiliários porque “financiam” o Chega, acrescentando que o partido omitiu que recebia dinheiro dos acionistas da TAP, quando estava a participar na comissão de inquérito à companhia aérea.
“É um disparate”, respondeu o líder do Chega. “Temos apoiantes ricos, pobres, de todas as classes”, apontou, afirmando que a lista de financiadores do partido é pública. Em retaliação e uma vez que o tema em cima da mesa era a habitação, Ventura voltou a trazer o caso Robles ao debate e atirou uma frase que ditaria o tom do debate nos minutos seguintes: “Há uma coisa que me orgulha de não ter: terroristas nas nossas listas”.
“Conheço bem os seus truques”, ia dizendo a líder do Bloco de Esquerda, que não tardou a responder às acusações de “terrorismo” no partido. “Já que me fala de terrorismo, tem como número 2 um homem que pertenceu ao MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal), que matou uma jovem”, disse Mariana Mortágua.
O líder do Chega lembrou a coordenadora bloquista que Diogo Pacheco Amorim nunca foi condenado por terrorismo, ao contrário dos candidatos do BE, disse Ventura, sem saber, no entanto, apontar nomes.
Imigração: mais um fosso entre BE e Chega
Questionado sobre as políticas de imigração, uma das principais bandeiras do Chega, André Ventura começou por referir que defende uma imigração controlada e que responda às necessidades económicas do país.
Mariana Mortágua considerou, por sua vez, que as propostas do Chega representam o caos: “caos na agricultura, nas pescas, nos lares, na construção…”. “Há emigrantes em Portugal porque há necessidade de trabalho, quem o diz são todos os empresários”, referiu.
“Por isso, é que orientamos a nossa imigração para as necessidades da economia”, respondeu André Ventura, explicando que a “economia deve determinar as necessidades migratórias”.
Sobre a utilização do Serviço Nacional de Saúde, Mariana Mortágua defendeu que deve estar acessível a todos. Ventura disse que não defende aqueles que vêm a Portugal só para ter filhos.
“País que [Mariana Mortágua] quer, é o país da estação do Oriente”, acrescentou Ventura.
“Ideologia de género” vs. igualdade de género
Como é de conhecimento público, André Ventura opôs-se ao pacote de 400 milhões de euros, inscritos no Orçamento do Estado para 2024, que tinha como um dos principais objetivos promover a igualdade de género, assim como outros desafios estratégicos, como o combate às alterações climáticas, resposta ao desafio demográfico, construção da sociedade digital e redução das desigualdades.
“Igualdade de género é luta justíssima entre homens e mulheres”, disse Ventura, lamentando que o Executivo de António Costa tivesse optado por misturá-la com a “ideologia de género”.
“Não aceito conteúdos aberrantes e sexuais nas escolas”, continuou. Quando questionado sobre exemplos, Ventura disse: “Não quero utilizar exemplos menos próprios”, reencaminhando os telespectadores para a sua página de Instagram.
Mariana Mortágua argumentou que cortar 400 milhões de euros “naquilo que chama de ideologia de género” é “cortar 400 milhões no abono de família, na proteção das vítimas de violência doméstica”.