Além Fronteiras

Mariana Cabral e a saída do Sporting: "Não me apetecia ter de lutar todos os dias por algo"

Saiu "desencantada" do Sporting, mas agora é treinadora-adjunta de uma equipa da principal liga de futebol feminino dos EUA. Do outro lado do oceano, Mariana Cabral encontrou diferenças abismais até nas coisas mais simples do dia a dia desportivo, tendo deixado de "fazer muita coisa com pouca coisa". 

Nuno Luz

Gabriel Pato

Gabriel Mota Figueiredo

Mariana Cabral, de 37 anos, deixou Portugal há poucos meses rumo aos Estados Unidos da América, onde é treinadora-adjunta do Utah Royals FC, um clube que milita na NWSL, a “melhor liga de futebol feminino do mundo”. Mas estará a portuguesa a viver o “sonho americano”? A resposta a esta questão no Além Fronteiras desta semana.

Quando deixou o Sporting, em outubro de 2024, a técnica recebeu diversas ofertas de vários países, mas optou por aceitar o desafio do Utah Royals FC, que lhe permitiu disputar a que considera ser a melhor liga de futebol feminino do globo. “Estou extremamente feliz, foi uma ótima decisão”, assume. 

A treinadora destaca a competitividade do campeonato onde está inserida, mas também os muitos recursos que tem à sua disposição: 

“Estando em Portugal temos de fazer muita coisa com pouca coisa, com poucos recursos, muitas vezes. A quantidade de recursos que tenho aqui é inimaginável, em Portugal não tem comparação. Temos mais dinheiro, mais material, mais infraestruturas, mais tudo.” 

Outra diferença que aponta é a “voz ativa” das atletas norte-americanas, que diariamente “dão opinião sobre praticamente tudo” e lutam “pelos direitos das jogadoras e por melhores condições de trabalho”. 

“Temos algumas jogadoras que estão na seleção americana e quando jogam pela seleção, só um jogo, são oito mil dólares. Se ganharem o jogo, são 10 mil dólares. Estamos a falar de qualquer jogo”, explica. 

A saída do Sporting: "Não partilhávamos as mesmas ideias”

Mariana Cabral explica ainda a razão que a fez abandonar os ‘leões’ mesmo depois de ter vencido a Supertaça frente ao Benfica. 

“As coisas não correram da forma que eu entendia que poderiam correr e, por isso, achei que seria o melhor para mim, também para o clube e para as jogadoras, que houvesse outro caminho. Não partilhávamos as mesmas ideias”, revela. 

A treinadora-adjunta do emblema de Utah lamenta ainda que, na época em que orientava o Sporting, tivesse de “pedir coisas” que considera normais, nomeadamente “condições de trabalho e de treino”. “Já não me apetecia ter de estar todos os dias a lutar por algo”, acrescenta. 

O treinador, no futebol masculino, não tem de estar todos os dias a pedir para treinar num relvado e não num sintético. Não tem de se queixar porque está a treinar com 15 bolas e todas diferentes umas das outras”, aponta. 

Por estes motivos assume ter saído do Sporting “desencantada” e mostra-se descontente com o facto de o futebol feminino em Portugal estar a crescer a “um ritmo muito lento”. 

Sobre a vida nos Estados Unidos, afirma que o “grande choque” que teve foi em relação às grandes dimensões dos supermercados, bem como à grande oferta de produtos, e ao uso indiscriminado de plástico no quotidiano. 

Últimas