O mínimo que se pode dizer da filmografia de Christopher Nolan é que, mesmo com os seus altos e baixos, nos está sempre a surpreender. Desde o bizarro “Memento” (2000), com a narrativa enredada num tempo sem princípio nem fim, até ao novo e brilhante “Oppenheimer”, sobre o “pai da bomba atómica”, ele é um autor de risco e invenção.
Vale a pena, por isso, regressarmos a um dos exemplos mais extremos, e também mais sedutores, dessa filmografia, disponível em streaming: “A Origem” (no original, “Inception”), uma produção de 2010, com um elenco que inclui, entre outros, Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt e Marion Cotillard. Arrebatou quatro Óscares da Academia de Hollywood, nas categorias de fotografia, efeitos visuais, montagem de som e mistura de som.
DiCaprio interpreta Dom Cobb, um especialista em roubos sofisticados que trabalha para interesses mais ou menos ocultos de grandes corporações. Com um detalhe que está longe de ser secundário: Cobb não rouba bens materiais, mas sim informação que obtém a partir da sua capacidade de “penetrar” no subconsciente dos seus alvos humanos…
Estamos, obviamente, perante um registo de ficção científica que, em qualquer caso, está longe de ilustrar os modelos correntes do género. Através de uma impressionante invenção visual — recordemos os corredores que “rodam” de uma posição para outra ou as cidades que parecem enquistar-se e comprimir-se —, Nolan consegue uma proeza paradoxal: inventar um universo alternativo, regido por leis misteriosas, que conservam muitos sinais do mundo em que vivemos. Nesta perspectiva, “A Origem” é menos um filme de “antecipação” e mais uma projecção dantesca dos nossos medos e enigmas.