Cultura

Entre as salas e o “streaming” (o caso de “Air”)

O mais recente filme de Ben Affleck vai surgir numa plataforma de “streaming” cinco semanas depois da estreia nas salas — um caso a merecer atenção e análise.

Rodagem de "Air": Ben Affleck, ao centro, dialoga com Robert Richardson, director de fotografia

João Lopes

Segundo notícias referentes ao mercado dos EUA, o filme "Air", de Ben Affleck, vai chegar à plataforma de "streaming" Prime Video no dia 12 de maio. Contas redondas: cinco semanas depois do seu lançamento nas salas, a 5 de abril (no mercado português surgiu a 13 de abril).

O filme faz o retrato de uma aliança histórica, de uma só vez económica e cultural: "Air" evoca a relação da Nike com Michael Jordan, em meados da década de 1980, para a criação de uma linha específica de calçado desportivo ("Air Jordan") numa altura em que o basquetebolista, além de muito novo, estava longe de possuir o estatuto de estrela global que viria a conquistar [ver trailer] .

O que importa sublinhar nesta notícia é, afinal, uma evidência a que nem sempre damos a devida atenção. A saber: a espera (na gíria industrial: a "janela") entre a estreia em sala de um determinado filme e o seu lançamento para consumo caseiro tornou-se cada vez mais curta. Lembremo-nos apenas como, em tempos de cassetes de video ou mesmo de DVD, esse intervalo chegou a ser superior a 12 meses…

Não fará sentido cair em generalizações fáceis — é mesmo verdade que cada caso é um caso, cada filme tem uma vida comercial diferente de qualquer outro filme. Ainda assim, se tivermos em conta que "Air" já acumulou uma receita global de 74,7 milhões de dólares (segundo a revista "Variety"), não podemos deixar de reconhecer que, num período tão curto de exibição, esse é um valor muito interessante para uma produção média deste género (média no contexto de Hollywood, entenda-se).

Numa conclusão necessariamente prudente e provisória, podemos reconhecer que exemplos como "Air" reflectem alguma disponibilidade de regresso às salas por parte de sectores importantes de espectadores. Enfim, a história ensina-nos que o valor artístico dos filmes não tem qualquer relação directa, muito menos evidente, com a respectiva performance nas bilheteiras… Seja como for, permito-me acrescentar que "Air" é um belo exercício de cinema, sabendo abordar, em depurada linguagem clássica, a mitologia do desporto sem secundarizar as bases económicas do seu funcionamento — e com um excelente elenco liderado por Matt Damon e o próprio Affleck.

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