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Mulher dona de casa? Trabalho é "diferente entre homem e mulher", diz co-autor de "Identidade e Família"

Um dos autores do livro "Identidade e Família", Paulo Otero, e a jornalista Catarina Marques Rodrigues estiveram na SIC Notícias a debater as ideias presentes na polémica obra apresentada esta segunda-feira por Pedro Passos Coelho. O coordenador defende que "nascemos homem ou mulher" e que não se deve chamar casamento ao "vínculo jurídico entre pessoas do mesmo sexo".

Rita Rogado

Paulo Otero considera que o papel da mulher enquanto dona de casa é desvalorizado, mas rejeita que o livro “Identidade e Família”, apresentado na segunda-feira e que está envolto em polémica, aponte para práticas discriminatórias.

É um dos autores e um dos quatro coordenadores do livro "Identidade e Família - Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade", apresentado na segunda-feira pelo antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Na SIC Notícias, refere o que o livro pretende "suscitar o debate na sociedade", uma vez que numa democracia "tudo se pode discutir".

O co-autor explica que querem rever leis que “põem em causa a família como instituição básica da sociedade”. É o caso da revisão com revogação em matéria de eutanásia.

"Queremos ir mais longe no combate que a criminalização conduziu, por exemplo, em relação de matéria sexual serem penalizados os médicos e psicólogos que forneçam assistência a essas pessoas com determinado cunho ideológico que a lei em causa tem", acrescenta.

Homossexualidade

Em relação à homossexualidade, Paulo Otero diz que defende o “princípio na liberdade”. No entanto, a seu ver, "não é possível a instituição do casamento como vínculo jurídico entre pessoas de sexo diferente possa ter cobertura para uma realidade diferente".

"Chame-se outro nome, mas não se chame casamento a um vínculo jurídico entre pessoas do mesmo sexo. Atribuam efeitos acessórios", afirma.

Transexualidade

Sobre a transexualidade, defende que "nascemos homem ou mulher": "É essa a identidade ao longo de toda a vida".

Em resposta, Catarina Marques Rodrigues, jornalista que se dedica a questões de género, igualdades e minorias, explica que tanto a Organização Mundial da Saúde como a ONU já mostraram que sexo e género "são coisas diferentes".

"Uma coisa é a biologia com que nascemos, outra coisa é o género, que é uma construção que, na maioria das pessoas, bate certo, mas há uma minoria em que não bate".

A jornalista lembra que até há uns anos a transexualidade fazia parte das doenças mentais, mas deixou de fazer, uma vez que se reuniram "em termos científicos provas de que não é uma doença mental".

Refere ainda que o casamento homossexual está na lei desde 2010. Além disso, defende que a diversidade de pais e mães deve ser "espelhada" nos conteúdos que aprendem na escola.

Paulo Otero, co-autor do livro, responde ao dizer que há leis que estão a "por em causa a família tradicional".

"Se o género é uma construção social, o que estão a procurar fazer é construir uma maioria diferente da atual", diz.

Disciplina de Cidadania

Na SIC Notícias, Paulo Otero anuncia que o livro vai estabelecer, nos próximos meses, um "conteúdo programático alternativo" para a disciplina de Cidadania. Avança ainda que as linhas gerais já estão feitas e baseiam-se em quatro ideias: o estatuto da pessoa humana, o estatuto da família, o estatuto da sociedade e o estatuto da humanidade.

"São os quatro pilares que caracterizam casa um de nós como indivíduo, mas também como membro da sociedade", aponta.

Já Catarina Marques Rodrigues destaca que uma pessoa com exposição e responsabilidade pública cria uma conversa social. Ou seja, abordando temas como o aborto e a adoção e o casamento homossexual cria alarme social.

Família tradicional

Questionado pela jornalista sobre o que é, para si, uma família tradicional, Paulo Otero refere que é aquela que é “capaz de gerar vida e gerir o ambiente assente na parentalidade”.

"O papel da mulher é de tentar o que é mais difícil: conciliar o papel enquanto membro da família e dentro da sociedade", diz.

Paulo Otero defende que o "estatuto da mulher enquanto dona de casa" está desvalorizado e considera que o trabalho é diferente entre um homem e uma mulher, "desde logo pela maternidade".

O autor rejeita ainda que o livro aponte para práticas discriminatórias.

Polémico livro

Pedro Passos Coelho apresentou um manifesto antiprogressista contra a ideologia de género, o aborto e a eutanásia.

Antigos ministros e deputados da Nação, constitucionalistas e até um sacerdote da Opus Dei são alguns dos co-autores de um conjunto de 22 textos que criticam a doutrinação ideológica nas escolas, no que dizem ser um ataque ao conceito tradicional da família. É o caso de nomes como António Bagão Félix, César das Neves, Jaime Nogueira Pinto e Ribeiro e Castro.

O livro está à venda desde 12 de março.

O lançamento acontece numa altura em que o PS deixou duas propostas penduradas para o Governo de Luís Montenegro e que precisam de regulamentação para poderem ser aplicadas: a eutanásia e a proposta sobre a Gestação de Substituição.

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