Uma equipa de investigação do Algarve Biomedical Center Research Institute da UAlg lançou um artigo científico na revista científica Clinical Epigenetics no qual, lê-se no comunicado enviado às redações, se “demonstra a importância dos padrões de metilação do DNA - mecanismos que regulam a expressão génica - na patologia do cancro da mama”.
Trocando por miúdos, os padrões de metilação do DNA não mais são do que “modificações químicas que ocorrem nas moléculas de DNA das células e que podem afetar a expressão de genes e influenciar o desenvolvimento e a diferenciação celular”. Pelo que, a análise desses padrões “pode fornecer informações importantes sobre o funcionamento das células e sobre a progressão de doenças”.
No caso particular do cancro da mama, explicam, os investigadores focaram-se “no estudo da metilação de uma região específica do gene TERT, que codifica a enzima da telomerase, e que é responsável pela capacidade das células cancerígenas se renovarem de forma ilimitada em cerca de 95% dos casos de cancro da mama”.
“Essa região é denominada como região oncológica hipermetilada da TERT (em inglês THOR) e é proposta pelos investigadores como um alvo de diagnóstico e de terapêutica promissor para o cancro da mama”, salientam.
Perante este cenário, e sendo “o cancro da mama o tumor maligno mais frequentemente diagnosticado, e uma das principais causas de morte entre as mulheres em todo o mundo”, o estudo torna-se ainda mais importante, em particular, para “a deteção precoce da doença” e o aumento das “possibilidades de sobrevivência e qualidade de vida dos pacientes”.
A importância desta descoberta
Os investigadores da UAlg salientam que esta é uma área “em que a necessidade de novas e mais eficazes opções de diagnóstico e terapêutica é urgente”, pelo que “a descoberta deste biomarcador poderá assumir-se como uma ferramenta adicional para rastreio e diagnóstico precoce do cancro da mama”.
“Os resultados parecem promissores uma vez que a análise de metilação da região THOR permitiu diferenciar cancro de tecido normal logo a partir do estádio mais inicial da doença, evidenciando o potencial deste biomarcador para rastreio e deteção precoce”, referem os investigadores.
A investigação teve por base dois grupos independentes de pacientes – compostos por mais de 250 pacientes no total - com carcinoma invasivo da mama, através de amostras de tecido proveniente de mulheres diagnosticadas no Centro Hospitalar Universitário do Algarve.
Os resultados demonstraram que “os pacientes que tinham o THOR hipermetilado apresentavam níveis mais elevados de expressão do gene TERT, sugerindo, assim que a metilação do THOR atua como um mecanismo de regulação positiva da ativação da TERT, permitindo antever uma patologia mais grave ou um pior prognóstico nestes casos”.
Este estudo “traz à luz o importante papel que a metilação do DNA pode ter na patologia do cancro da mama, relevando que determinadas marcas epigenéticas podem ter potencial para vir a ser usadas como biomarcadores da doença”, referem os investigadores, representados por Joana Apolónio, que acrescenta que “pode constituir a base para o desenvolvimento de um ensaio não invasivo, e, assim, melhorar a prática clínica".