Nasceu em 1977, em Lisboa. Aos dois anos foi viver com os pais para a Covilhã, terra dos avós paternos, de onde só saiu quando foi para a faculdade. Recorda a casa dos avós, onde viveu depois da separação dos pais.
“Era a minha casa. Fui o último a fechar a porta, a vê-la vazia, para a colocarmos à venda”.
A mãe era bailarina em Lisboa. Era uma mulher “revolucionária de esquerda”, que deixou a carreira quando engravidou aos 20 anos. A mudança para a Covilhã foi difícil. Nos anos 70, o país vivia a várias velocidades e no interior “as mulheres nem podiam ir tomar café sozinhas”.
Cresceu rodeado pela Serra da Estrela e a da Gardunha e quando nevava, “mais do que agora”, não havia escola. “Ficávamos a brincar na neve”, conta.
“A glória e a desgraça da família”
A família tinha duas fábricas de têxteis. Uma delas um império construído pelo bisavô Adolfo de quem herdou o nome. “Chegámos a ter tudo”. Foram a glória e a desgraça da família. No final dos anos 80 foi a “decadência de tudo”. Foram “tempos duros”.
Quando estavam em família as conversas eram sobre hipotecas, dívidas e sobre como poderiam desfazer-se do património. “Durante muito tempo pensei: ‘Eu não quero passar por isto. Nunca vou ter um negócio”.
“Fiquei deslumbrado. Passei a adorar os tempos de antena, os partidos. Tudo. ”
Desde cedo que foi confrontado com a “discussão política”. A família era muito politizada, “quando nos juntamos vai desde o CDS ao MRPP”. Ainda hoje é “gozado” pelos tios mais de esquerda.
Em casa tinha o chapéu de palha de Freitas do Amaral. A campanha para as presidenciais de Mário Soares e Freitas do Amaral, em 1986, foi o primeiro contacto que teve com a vida política.
“Fiquei deslumbrado. Passei a adorar os hinos, os tempos de antena, os partidos. Tudo ”.
Na altura em que “estava na moda” ser do PSD, como diz, filiou-se na Juventude Centrista. Estávamos em 1994, já vivia em Lisboa, onde estudava na Universidade Católica.
Só se tornou militante do CDS em 1997, quando a liderança de Manuel Monteiro chegou ao fim. “Não me identificava com os traços de radicalismo e falta de sensatez”.
Foi deputado e, em 2013, secretário de Estado do Turismo. Em 2016 chegou a vice-presidente do CDS.
O alerta para o fim do CDS e a saída da política
Em janeiro de 2021, num artigo que escreveu, alertou para o risco do desaparecimento do CDS e foi chamado de “louco”. Em rutura com a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos deixou o partido em outubro do mesmo ano.
Aos 46 anos, Adolfo Mesquita Nunes está na Administração da Galp e pelo caminho regressou à cidade onde cresceu para ser vereador da Câmara Municipal da Covilhã.
Garante que não tem saudades da política e confessa que não gosta de falar dos tempos da troika. Deixa duras críticas aos anos do Governo de António Costa e culpa a direita, que “não tem alternativas”, pelo crescimento do Chega e o PS, que fez de André Ventura seu “aliado”.
Na conversa, gravada antes do anúncio da nova Aliança Democrática que volta a juntar o PSD e CDS, acredita haver “condições” para os centristas regressarem ao Parlamento.
“Geração 70“ é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam.
Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.