Nasceu em Lisboa no Verão Quente de 1975. Cresceu e viveu em Sesimbra com os pais e o irmão. O pai era bancário, a mãe “inspetora” de catering. O ambiente em casa sempre foi muito politizado. Recorda a “enorme presença” do cravo vermelho, os cancioneiros da Revolução, as “palavras de ordem” e as comemorações, com “pompa e circunstância”, do 1.º de Maio.
O tio foi presidente da Câmara Municipal de Sesimbra e em criança chegou a acompanhar o pai em comícios do MDP CDE - Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral.
“Em 1985, participei na campanha presidencial de Maria de Lourdes Pintassilgo pelo UDP”, conta.
Não pertence a nenhum partido e admite que “oscila no voto”. Politicamente assume-se como uma “pessoa de esquerda”, muito por influência dos pais.
A família vivia bem e viajava muito. Com 5 anos foi pela primeira vez a Paris, com os pais e o irmão.
Estudou na escola pública, em Sesimbra, onde havia “resquícios claros” do Estado Novo e um clima de “violência, medo e disciplina castigadora”.
Aos 19 anos veio para Lisboa para estudar no Conservatório. Na Faculdade, ainda começou a licenciatura em Arquitetura mas desistiu do curso para se dedicar a tempo inteiro ao teatro.
No final dos anos 90 foi apresentador dos programas Clube Disney, da RTP, e da versão portuguesa do programa Art Attack.
Escondeu a homossexualidade durante anos
Durante muito tempo escondeu a homossexualidade. E quando foi nomeado diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II fez questão de a assumir. “Ainda estamos no tempo onde isso tem importância”, acredita.
"Disse aos meus pais qual era a minha preferência sexual aos sete anos. Usando o vocabulário que me era mais familiar, disse: ‘Eu sou maricas.’ Achei que tinha dito algo que não devia”
“Achei que precisava de me apresentar e que era preciso marcar essa diferença e dizer que tenho orgulho no que sou”.
O “processo duro” da gravidez
É casado e tem uma filha, a Amália, que nasceu de uma gravidez de substituição, há um ano, no Canadá. “Foi um processo duro, cheio de dúvidas éticas e pensei: ‘como é que eu vou explicar isto à minha filha?’”.
Sobre a legalização da gestação de substituição admite que não é uma “ambição”, mas defende uma maior discussão sobre o tema.
O ator, encenador e diretor artístico do Teatro Nacional D Maria II, Pedro Zegre Penim, é o novo convidado de Bernardo Ferrão no podcast Geração 70. Nesta conversa, fala abertamente sobre as falhas - à direita e à esquerda - da democracia e alerta para o risco “real” do crescimento da extrema direita.
Debate ainda a falta de investimento na cultura no Alentejo em particular, mas sobretudo a sul do país que vive a “várias velocidades”. As causas e lutas LGBT, as complicações na gestação da filha e o pouco crescimento das minorias e o que (ainda) falta cumprir na democracia.
“Geração 70“ é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam.
Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.