Essencial

Da denúncia à reparação: vítimas de pedofilia continuam à espera que a Igreja "se chegue à frente"

O processo de reparações financeiras das vítimas de abusos aguarda avaliação e aceitação da Igreja portuguesa. Em abril, os bispos vão voltar a analisar o assunto. Mas o “Essencial” é perceber a forma como até agora as vítimas de abusos sexuais por parte de padres e religiosos têm vivido este difícil processo.

Conceição Lino

As vítimas de pedofilia no seio da Igreja Católica continuam à espera que os bispos portugueses tomem decisões quanto a possíveis reparações financeiras. Até agora, chegaram ao Grupo Vita, 14 pedidos de indemnização.

Há um ano, o país conheceu os resultados de um estudo pedido pela Igreja sobre abusos sexuais cometidos por padres e outros religiosos. Esse trabalho revelou 512 testemunhos que denunciavam atos criminosos cometidos contra crianças nos últimos 70 anos e apontava uma estimativa de quase cinco mil casos.

Depois disso, a Igreja criou mais um grupo para atender vítimas, apoiá-las e trabalhar na prevenção mas até agora não são conhecidas medidas concretas de reparação que sejam comuns a todas as dioceses.

A palavra indemnização tem sido rejeitada e continua a dividir a Igreja portuguesa, mas é essencial perceber afinal o que a instituição católica pretende fazer e também que papel pode ter o Estado para compensar quem foi obrigado a viver com traumas e que poucos têm a coragem de revelar publicamente.

“Queremos que a Igreja e o Estado se responsabilizem”

Quando foi pela primeira vez alvo de abusos sexuais por parte de um padre tinha 10 anos. Só mais tarde compreendeu a gravidade do comportamento pedófilo.

Desde o primeiro momento, em que relatou o seu caso à Comissão Independente que António Grosso espera que a Igreja avance para reparações financeiras às vítimas de abusos sexuais na infância.

“Mas até agora não houve reparação nenhuma que se veja, concreta, visível, palpável, física. E essa tem que chegar, tem que chegar, porque os danos morais foram muito grandes. (…) Passar uma adolescência inteira a pensar no assunto sem ser capaz de abrir a boca senão aos 21 anos é um trauma muito pesado. Custa muito”

António Grosso é um dos responsáveis da Associação Coração Silenciado, que pretende ter uma voz na defesa de quem carrega traumas vividos na infância e adolescência. E é a pensar em todas essas vítimas, que até agora se têm mantido em silêncio, que defende que se para outros crimes existem indemnizações também para elas é justo o mesmo reconhecimento.

“(…) Nós queremos que a Igreja e o Estado, se responsabilizem pela compensação financeira, porque é a única que a Justiça conhece. (…) pode haver mil palavras de perdão, mas palavras leva-as o vento e até agora o vento tem nos levado todas”

É "Essencial" perceber a forma como até agora as vítimas de abusos sexuais por parte de padres e religiosos têm vivido este difícil processo desde a denúncia à reparação.

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