O humorista Ricardo Araújo Pereira (RAP) foi ouvido, esta manhã de segunda-feira, no julgamento que opõe a dupla Anjos a Joana Marques. À saída, em declarações aos jornalistas, o humorista alertou para o precedente que se abrirá caso a colega humorista seja condenada: “Se a Joana for condenada isso significa que aquilo que ela fez é ilícito, portanto toda a gente que quer ter o direito de dizer eu não gostei muito disto… vá preparar a carteira”.
Dando como exemplo a música de Axl Rose ‘Used to Lover Her’, RAP explicou aos jornalistas que “quer no discurso humorista, quer também na música, há uma latitude maior do que as pessoas normalmente podem dizer se estiverem a falar a sério”. No caso dessa música, ela ”é uma sátira ao sentimentalismo das canções de amor normais".
“Se Axl Rose tivesse dito isso num papel de 25 linhas e um notário tivesse validado, ia para a cadeia . Como está a cantar, a gente pode achar tudo o que quiser - acho que é sem dúvida o que se passa aqui. A Joana fez um vídeo de um minuto que exprime a seguinte ideia: ‘Não gostei muito desta atuação musical’. As advogadas da outra parte dizem que essa é a minha interpretação e a delas é diferente".
"A Joana não tem responsabilidade nenhuma sobre as pessoas que vão por comentários desagradáveis sobre os Anjos e que pelos vistos lhes fizerem ameaças de morte (…), a interpretação que outras pessoas fazem do que a gente diz nao é controlável por nós."
Na opinião do humorista, que hoje foi ouvido como testemunha, “o que ela [Joana Marques] diz não é ilícito”. Diferente seria, “se ela tivesse dito vamos a casa deles matá-los porque esta interpretação do hino nacional merece que eles fiquem sem cabeça, isso era uma declaração ilítica e era natural que o tribunal a punisse”.
“Mais uma vez, é um vídeo absolutamente anódio, estamos no terceiro dia de julgamento, há uma espécie de rejeição da ideia das pessoas rirem umas das outras porque o escárnio é malvalado. (…) Não somos assim tão importantes, aquela atuação correu mal, paciência”.
RAP destacou ainda que "os autores [os Anjos] desta ação têm um documento da empresa que era responsável pela captação e transmissão do som a reconhecer falhas técnicas muito graves, mas eles não processaram essa empresa, eles têm provas da quantidade de pessoas que os ameaçaram de morte e eles não processaram nenhuma dessas pessoas, a Joana fez uma piada e estamos no terceiro dia de julgamento”.
"Conclusão: se alguém tentar prejudicar o trabalho dos Anjos, se alguém os ameaçar de morte, eles não ligam, se alguém se rir deles, eles querem um milhão de euros.”
“Objetivamente”, prosseguiu, este julgamento “é uma perda de tempo” e, assegurou, no lugar da colega humorista, “faria o mesmo”: “Retirar o vídeo seria admitir uma culpa que não existe e abrir um precedente grave que basicamente torna o trabalho impossível de fazer”.
À dupla musical, Ricardo Araújo Pereira aproveitou ainda para deixar um desafio:
"Devolveria a pergunta aos Anjos, se alguém contactar os Anjos a dizer que tem vontade de se matar cada vez que eles cantam, é improvável mas eu por acaso conheço uma pessoa, a minha prima Andreia cada vez que ouve a [música] ‘Noite Branca’ atira-se da janela, temos de fazer o Natal sempre no rés-do-chão porque pode haver lesões graves. A Andreia não gosta daqueles álbuns mas não é razão para eles [Anjos] os recolherem por muita vontade que a minha prima tenha vontade de se matar cada vez que os ouve"
Posto isto, concluiu RAP que “se a Joana for condenada isso significa que aquilo que ela fez é ilícito, portanto toda a gente que quer ter o direito de dizer eu não gostei muito disto… vá preparar a carteira”.