País

"As grávidas em trabalho de parto esperam nos corredores por vaga", o relato de uma especialista em obstetrícia

Em média, são realizados, por dia, 90 atendimentos nas urgências. Devido ao reduzido número de profissionais, pouco tempo conseguem dedicar a cada grávida. Uma pressão que, segundo a especialista em obstetrícia Sara Proença, começou a aumentar nos últimos quatro meses.

Diana Pinheiro

Humberto Candeias

A urgência de obstetrícia do Hospital de Cascais é uma das poucas na região de Lisboa que não tem estado encerrada. No entanto, os profissionais dizem estar sobrecarregados de trabalho e avisam que a situação não vai melhorar nas próximas semanas. Há casos de grávidas em trabalho de parto que têm de esperar no corredor por uma vaga no hospital.

Com turnos cada vez maiores, chegam a trabalhar até mais 24 horas por semana além do horário legal. Um esforço que a especialista em obstetrícia, Sara Proença, tem feito nos últimos meses juntamente com os colegas para responder às necessidades das grávidas no Hospital de Cascais.

"Somos poucos para o número de grávidas e de consultas que temos de fazer. Nas urgências, temos muita afluência, mais do que no ano passado, e já temos afluência de áreas fora do hospital. Isso traz uma grande carga física e emocional", afirmou, à SIC.

"Dos quase 2.000 obstetras que existem em Portugal, nem metade está no SNS"

Em média, realizam por dia 90 atendimentos nas urgências. Devido ao reduzido número de profissionais, pouco tempo conseguem dedicar a cada grávida. Uma pressão que, segundo a médica, começou a aumentar nos últimos quatro meses. Dos casos que lhe têm chegado, destaca um que espelha a realidade do Serviço Nacional de Saúde.

Uma grávida natural de Santarém, cujo hospital estava encerrado, a solução encontrada estava a 50 quilómetros, no Hospital das Caldas da Rainha. Como havia a possibilidade de um parto prematuro, foi transferida para o Hospital de Évora, a cerca de 200 quilómetros. Após uma semana internada, entrou em trabalho de parto, mas o hospital não tinha vagas para prematuros, e a grávida foi transferida para Cascais, a mais de 150 quilómetros. Ao todo, percorreu mais de 400 quilómetros para conseguir ter o filho em segurança.

"Com as urgências encerradas por decisão do Ministério, é cada vez mais difícil transferir grávidas e o que acontece muitas vezes é que as grávidas ficam em trabalho de parto, sem estarem internadas, nos corredores e à espera de vaga", acrescentou a especialista em obstetrícia.

Esgotados, os profissionais de saúde pedem soluções ao Governo e alertam que, sem mudanças, a situação vai piorar nas próximas semanas.

Marcelo diz que Plano de Emergência para a Saúde "criou expectativas muito altas"

Últimas