Quando em outubro do ano passado, António Costa levou ao Conselho Europeu uma proposta de um novo modelo para a União Europeia, estaria longe de pensar que daí a um mês apresentaria a demissão como primeiro-ministro. Nesse dia colocou mais longe o sonho europeu que pouco mais de meio ano depois... acaba de alcançar.
"Se fosse crente, diria que era um milagre, mas a vida é de mudanças e muita água correu no Tejo desde esse dia e estamos numa situação diferente na que estávamos", disse António Costa.
Dentro de cinco meses, toma posse como presidente do Conselho Europeu. E se o caminho até aqui é feito de oito anos no Conselho como primeiro-ministro, visto entre os 27 como um negociador e gerador de consensos, os dois anos e meio que tem pela frente darão seguramente para o pôr à prova.
"Ninguém deixa de pensar o que pensa, agora o presidente do Conselho Europeu expressa aquilo que é o pensamento e a vontade do Conselho Europeu. Aquela expressão que Mário Soares criou para os presidentes da república, pronto, o presidente do Conselho Europeu tem de ser o presidente de todos os que se sentam no Conselho"
É-lhe conhecida a perspetiva sobre o alargamento a mais de 30 que levou a Granada. A exemplo de um centro comercial, a sugestão de que a União Europeia poderá ter níveis diferentes de adesão, conforme a vontade dos países, para evitar os choques e bloqueios por falta de unanimidade cada vez mais difícil de conseguir.
É-lhe conhecido também o papel que teve na discussão sobre o mecanismo de solidariedade flexível dos países nas migrações, tema que nem sempre do agrado de todos os que sentam no Conselho.
Para os dilemas orçamentais, já se lhe ouviu defender uma espécie de PRR permanente. Em junho de 2025, há que discutir um novo quadro financeiro plurianual.
A somar à gestão do quotidiano dos ainda 27, pelo menos quando Costa assumir o lugar, há a política externa e o necessidade de pensar o investimento na Defesa na União Europeia.
E nos factores de instabilidade, as crises políticas dos estados-membros e o peso da extrema-direita não deixarão de acrescentar trabalhos à agenda futura do ex-primeiro-ministro.