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“Se fosse crente, diria que era um milagre”, diz Costa sobre presidência do Conselho Europeu

António Costa desdramatiza o voto contra da primeira-ministra de Itália na escolha para presidente do Conselho Europeu. Considera que a confiança dos líderes dos Estados-membros em si ficou expressa “de forma clara”.

Rita Carvalho Pereira

Depois de ter chegado a afastar a possibilidade de ocupar cargos políticos, após a demissão de primeiro-ministro, António Costa afirma que, se fosse “crente”, diria que era “um milagre” ir agora assumir a presidência do Conselho Europeu.

"Se eu fosse crente, por ventura, diria que era um milagre. Mas a vida é feita de mudança e muita água correu no Tejo desde esse dia. Acho que hoje, manifestamente, estamos numa situação diferente”, declarou o ex-primeiro-ministro português, em declarações aos jornalistas, esta sexta-feira, em Bruxelas.

António Costa considera que o Conselho Europeu expressou de forma clara a vontade de que assumisse o cargo, dando-lhe um “voto de confiança”.

“Desta-vez, pareceu-me rápida a decisão”, afirmou o próximo presidente do organismo, relembrando como, há cinco anos, foi mais difícil obter consensos quantos aos nomes escolhidos para os cargos de topo da União Europeia.

“É normal que aconteça. Compreendo perfeitamente o voto da primeira-ministra de Itália, com quem conto colaborar com enorme proximidade”, garantiu, desdramatizando.

"Presidente do Conselho Europeu tem de colocar-se acima da família política"

“Uma das grandes qualidades da União Europeia é ser uma união de vários Estados, todos eles de direito democrático, que são fruto da vontade popular. O presidente do Conselho tem de respeitar todos”, sublinhou António Costa, para quem é normal cada país e cada líder político ter as suas preferências.

Costa defende que, apesar de tudo, o presidente do Conselho Europeu “tem de saber colocar-se acima da família política” para o exercício das funções.

A renovação do mandato e as "excelentes relações" com as colegas

Questionado sobre se tenciona ficar no cargo depois dos dois anos e meio estabelecidos à partida – uma vez que a direita chegou a lançar a ideia de substituir o presidente do Conselho Europeu por um nome do Partido Popular Europeu, após o primeiro mandato, para aceitar esta nomeação de Costa, o ex-chefe de Governo português lembra apenas que o mandato pode ser renovável. Haverá, portanto, um segundo? “Daqui a dois anos e meio, falaremos”, disse apenas.

“Espero que no final de dois anos e meio achem que eu tenha feito um bom trabalho”, declarou, afirmando ainda esperar “contribuir para o prestígio” de Portugal.

“Tenho alguma experiência para perceber como devemos agir para que as coisas possam correr bem – espero que corram, porque a Europa precisa”, declarou.

“Desejo e tenho a certeza que vamos conseguir funcionar bem todos”, assegura, falando numa excelente experiência prévia de relação com Ursula Von der Leyen.

Não faz concorrência a Michel e vai de "férias"

António Costa adianta que já esteve reunido com o secretariado-geral do Conselho Europeu, mas que lhe falta ainda falar com o atual presidente do órgão.

“Não tenciono, obviamente, andar a fazer concurso com o presidente Charles Michel”, atirou, revelando que, para já, vai apenas começar a “preparar-se” para as funções.

"Vou começar a passar pelo gabinete, ver como o organizo, de acordo com a agenda estratégica”, revelou. “Vou querer falar com todos os líderes, para ver como podemos melhorar os métodos de trabalho e ouvir as ideias de todos. Conheço-os pessoalmente a quase todo”, comentou Costa. “Tenho bastante que fazer!”

Mas antes de assumir o cargo, adianta, vai fazer algo que diz não fazer “desde que saiu da faculdade”: “Ter umas semanas largas de férias”.

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