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Aos olhos de um nutricionista, a lista de 44 alimentos é suficiente? E os vegetarianos?

A lista dos 44 alimentos com IVA zero, elaborada em conjunto com o Ministério da Saúde, está fechada. São mais de 40 produtos alimentares do cabaz essencial atualmente taxados a 6% e que vão passar, a partir de abril, a estar isentos de IVA. Mas será que a lista está bem estruturada? Foi isso que a SIC Notícias tentou perceber com o vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas, José Camolas.

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Mariana Guerreiro

O acordo ficou fechado com a assinatura do Pacto para a Estabilização e Redução de Preços dos Bens Alimentares. Isto quer dizer que as carteiras vão sentir uma ligeira redução dos custos quando chegar a hora de pagar alguns alimentos. Mas a questão que agora se aplica é se estes 44 alimentos são suficientes nos hábitos alimentares.

Esta lista “está muito alinhada com um cabaz básico e com aquilo que são os consumos habituais para a população. Portanto, o critério de base foi olhar para aquilo que é a distribuição destes produtos na roda de alimentos e a sua expressão naquilo que deve ser o consumo global e equilibrado dentro de cada um destes grupos alimentares”, explicou José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas, em entrevista à SIC Notícias.

“Estes alimentos também têm a dualidade de serem característicos em termos de consumo da população portuguesa e serem fáceis de converter em pratos tradicionais”, acrescentou.

O que aconteceu ao salmão que estava na lista pré-anunciada?

Para quem estava à espera que o salmão estivesse incluído na lista final, não teve muita sorte. No entanto, o vice-presidente da Ordem dos nutricionistas explicou que “alguns peixes têm visto o seu preço inflacionar mais que outros e, provavelmente, terá existido uma preocupação com o aumento significativo do preço de alguns” deles e que, possivelmente, “terá acontecido isso em relação ao salmão”.

Não há salmão, mas há dourada

José Camolas acredita que o preço ao consumidor, a acessibilidade de compra e o local da produção tenham sido fatores importantes na escolha de certos produtos alimentares. Para exemplificar, refere que existe “alguma produção da dourada na costa portuguesa” e isso pode ter tido influencia.

Acabaram por “encontrar produtos que têm características nutricionais que são relativamente aproximadas [à do salmão]”. Outro ponto que pode ter tido peso na hora da escolha foi “a produção mais próxima para ter uma pegada ecológica menor e com um custo mais acessível. Portanto, foi tido em conta produtos mais generalizáveis à maioria dos consumidores, com esta ideia de ser mais fácil de aceder” a eles, referiu em entrevista à SIC Notícias.

E quem tem uma alimentação vegetariana, ou vegana?

O vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas garantiu que a preocupação em ter as leguminosas na lista, “que são uma fonte habitual de proteína dos veganos”, foi tida em conta.

“O foco nas leguminosas terá sido a pensar não só nas pessoas veganas, como também nas dietas de base vegetal”. Isto porque “a ciência demonstra que devemos procurar no reino vegetal uma porção expressiva da nossa proteína diária e creio que a preocupação que houve com as leguminosas teve também a ver com isso”.

José Camolas explicou também que há uma representatividade das leguminosas nesta lista dada a sua riqueza nutricional, por serem “boas fontes de hidratos de carbono e ótimas fontes de proteína com um valor biológico interessante”. E, portanto, é uma tentativa de trazer mais leguminosas para o consumo habitual dos portugueses.

“Alguns destes alimentos poderiam ser isentos de IVA para sempre”

Esta medida que entra em vigor no próximo dia 1 de abril e que vai permanecer até outubro é, para José Camolas, o início de uma fase de IVA zero que se poderia manter a longo prazo.

“Sabendo nós o quanto a alimentação é protetora e promotora da saúde, quase me apetecia dizer que alguns destes alimentos poderiam ser isentos de IVA para sempre”, explicou.

“Se formos capazes de avaliar o impacto que isto tem na vida da pessoas, no consumo e na sua saúde”, talvez fosse “um ótimo investimento para o Estado isentar de IVA alimentos que podem proteger a saúde das pessoas”, concluiu.

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