Sendo a franqueza uma qualidade claramente subestimada (para não dizer desprezada) na política a que assistimos todos os dias, foi uma saudável variação.
Emprego o termo "saudável" com duplo sentido: porque revela saúde e porque é de saudar. João Cotrim Figueiredo, o líder que nasceu da sua eleição em 2019 como deputado único, agora reeleito, assume ao que vem, sem subterfúgios nem entrelinhas. E ao que vem? O presidente do IL quer ter cinco deputados na próxima Assembleia da República, o que significa que tem de conseguir 4,5% de votos (3x e meia mais do que os que obteve há dois anos).
Se eleger apenas dois (o denominador mínimo para a composição de um grupo parlamentar), já o disse, entenderá que foi um mau resultado e, em resultado, apresentará a sua demissão. Traça claramente as linhas vermelhas do partido: o IL não faz coligações nem pré nem pós-eleitorais com PS, PCP , BE ou CH; e não viabiliza um Governo de Bloco Central.
Ciente de que o fito de qualquer partido é chegar ao poder e que, neste aspeto, o IL não é diferente dos outros, assegura que não tem pressa, que não troca convicções por lugares. Tanta sinceridade estranha-se. E talvez nunca se chegue a entranhar, sobretudo por quem já anda nesta vida há algum tempo e já viu muita coisa.
Mas os eleitores, nomeadamente aqueles que o IL tem debaixo de olho (os jovens das grandes cidades que só agora irão votar pela primeira vez; e todos os outros eleitores que, desiludidos com os partidos tradicionais, preferem abster-se a, ainda assim, aderirem ao discurso antissistema de André Ventura), são bem capazes de gostar.