O barco com bandeira portuguesa da flotilha de ajuda humanitária a Gaza onde seguem Mariana Mortágua, Sofia Aparício e Miguel Duarte foi atacado esta madrugada por um drone na Tunísia. Os portugueses encontram-se bem.
O ataque ao navio com bandeira portuguesa causou um pequeno incêndio a bordo, mas que foi rapidamente extinto. Registaram-se apenas danos superficiais na embarcação.
Os barcos estão atracados na Tunísia e toda a tripulação e passageiros estão bem. O ativista português Miguel Duarte estava no barco no momento do ataque.
O barco atingido, denominado "barco da família", é um dos principais. A organização já confirmou que o navio pode continuar a viagem até à Faixa de Gaza.
Mariana Mortágua garante que "estratégia de intimidação" não vai "travar" missão
Em declarações em exclusivo à SIC Notícias, Mariana Mortágua, que estava a bordo de outro barco no momento do ataque, explica que o drone lançou um dispositivo de fogo para o barco onde segue a delegação portuguesa.
"Eu não estava no navio nesse momento, eu e a Sofia tínhamos feito um turno de vigilância na noite anterior e tínhamos sido substituídas por outras pessoas, entre elas o Miguel Duarte e a Ada Colau, que também esteve presente e que foi Presidente de Câmara de Barcelona", esclarece.
Segundo a bloquista, o drone "trouxe um dispositivo incendiário" causando o referido incêndio numa parte do barco. Este terá sido lançado "para um sítio específico do barco".
"Este drone foi lançado precisamente no momento em que se sabia que não estavam algumas figuras dentro do barco, mas como estratégia de intimidação, embora não tenhamos nenhuma confirmação das suas origens", relatou Mariana Mortágua.
A coordenadora do Bloco de Esquerda garantiu ainda que "esta missão não pode nem vai ser travada e vai continuar".
"É uma missão que tem dezenas de barcos, dezenas de países, tem dezenas de personalidades e, portanto, não há nenhuma estratégia de intimidação que impeça esta missão humanitária de continuar", sublinhou em declarações à SIC.
Mariana Mortágua lembra que este ataque "poderia ter tido outras consequências", e recorda que "a bordo deste navio estavam civis e participantes", além de existir apenas "ajuda humanitária e alguns enlatados que serviam para a alimentação da tripulação e dos participantes".
"Uma das razões pelas quais esta missão tem esta dimensão de dezenas de barcos com muitas nacionalidades e que dá todo este trabalho e tem esta complexidade organizativa é precisamente para superar todas as dificuldades que anteriores missões foram encontrando, sejam elas sabotagem de ataque direto ou indireto", explica ainda a bloquista.
Mortágua diz que Estado português tem responsabilidades (mas não é o único)
Sobre os esclarecimentos de autoridades, Mortágua acrescenta que "o que aconteceu é uma tentativa para descredibilizar mais uma vez este ataque" para "dizer que as origens do incêndio são internas ao navio, quando há imagens que mostram claramente o dispositivo a ser lançado sobre o navio".
E lembra: "O navio tem bandeira portuguesa. O principal navio desta missão, onde segue a delegação portuguesa e também os organizadores da missão, tem bandeira portuguesa." Nesse sentido, considera "que isso dá responsabilidades adicionais ao Estado português, mas não apenas ao Estado português".
"Independentemente da verificação, e deve ser feita das origens e deve esclarecer todas as questões deste ataque, esta é uma missão humanitária que deve ser respeitada e protegida pelos governos e pelas instituições europeias", sublinha a bloquista.
Investigação em curso
Na sequência do ataque, "está em curso uma investigação e, assim que houver mais informações disponíveis, estas serão divulgadas imediatamente", revelou a Flotilha Global Sumud (GSF, na sigla em inglês), através de várias publicações esta terça-feira nas redes sociais.
"Os atos de agressão destinados a intimidar e a inviabilizar a nossa missão não nos dissuadirão", fez ainda saber a GSF, acrescentando que a "a missão pacífica de quebrar o cerco a Gaza e de [se] solidarizar com o seu povo continua com determinação e resolução".
A relatora especial da ONU para a Cisjordânia e Gaza, Francesca Albanese, disse ainda que "outros dois navios estão a caminho de Tunes e precisam de proteção urgente", numa de várias publicações na rede social X.
Navio "pode viajar" esta quarta-feira
Segundo os porta-vozes tunisinos da Flotilha, citados pela agência EFE, que se encontravam a bordo do navio, o navio "pode viajar" esta quarta-feira.
As mesmas fontes garantiram que "apenas os tunisinos ficarão para vigiar os navios esta noite", segundo um vídeo divulgado pelo tunisino Wael Naouar, porta-voz magrebino da flotilha.
Naouar apelou aos tunisinos para que se deslocassem ao porto para proteger os navios que planeiam partir esta quarta-feira de manhã em direção à Faixa de Gaza, na tentativa de quebrar simbolicamente o bloqueio militar israelita imposto ao território.
Centenas de tunisinos dirigiram-se esta madrugada ao porto de Sidi Bou Said para mostrar solidariedade para com a flotilha, na sequência do incêndio num dos seus maiores navios, segundo vídeos divulgados nas redes sociais, em que se ouviam gritos com "viva a Palestina".
Flotilha humanitária chegou no domingo à Tunísia
Recorde-se que os barcos da flotilha chegaram este domingo à Tunísia, onde vão realizar uma paragem para recolher mais ajuda e fazer reparações.
Em declarações à Lusa nesse dia, Miguel Duarte indicou que estavam "ao largo da costa da Tunísia" seguindo em direção à capital, Tunes, local onde foi agora atacado.
"Vamos essencialmente fazer uma paragem com vários navios da flotilha para reabastecer de água e de provisões, para recolher mais ajuda humanitária e para fazer pequenas reparações que, entretanto, percebemos que são necessárias, por causa das condições que enfrentámos ao longo do troço da viagem", apontou.
O ativista explicou que a delegação que saiu de Espanha ainda não se cruzou com as embarcações italianas e que o plano é se encontrarem "em mar alto".
Quanto à data de chegada a Gaza, Miguel Duarte indicou que não é fácil prever a chegada da flotilha a Gaza, que estava inicialmente agendada para meados de setembro.
"Sempre que há problemas técnicos num navio é suficiente para atrasar a flotilha inteira. Então é difícil prever [a chegada], mas o plano, que originalmente era chegar a meados de setembro, agora terá um atraso de uns poucos dias", realçou.
Miguel Duarte também lamentava a presença de drones a sobrevoar as embarcações que partiram de Barcelona, na semana passada.
Com Lusa