O Mundo a seus Pés

“Os governos ocidentais são cúmplices e o português é um deles”. Ativista português Miguel Duarte fala a partir de um barco para Gaza

O português Miguel Duarte está a bordo de um dos barcos que vão tentar entrar em Gaza, apesar de o território estar sob um impermeável bloqueio israelita. A ajuda humanitária escasseia e o ativista português, que também já participou em várias missões de resgate de migrantes no Mediterrâneo, acredita que, desta vez, o cerco vai mesmo ser quebrado e um dos barcos, senão mais, vai conseguir aportar e entregar comida e medicamentos a quem mais precisa

O Mundo a seus pés

A frota a caminho de Gaza não teve um início muito auspicioso: foi apanhada no meio de uma tempestade e teve de voltar para trás. Alguns dos barcos, mais pequenos, mais antigos, foram reparados, e cinco já não chegaram a voltar ao mar. Mas dos 24, 19 estão de volta ao Mediterrâneo com um destino traçado: Gaza, o território que há quase dois anos tem sido bombardeamento sem piedade pelo exército israelita e onde a fome já é um problema generalizado.

O bloqueio económico de Israel à Faixa de Gaza começou no fim dos anos 90, mas tornou-se muito mais intenso após a vitória do Hamas, que além de um movimento terrorista na Europa e nos Estados Unidos, é um partido político palestiniano que venceu as eleições em 2006 e passou então a governar Gaza. Israel não reconheceu as eleições e passou a justificar o bloqueio com tentativa de derrubar um grupo que, nos seus documentos fundadores, inscreveu o fim do Estado de Israel como um dos objetivos políticos. Nada disso, alegam os ativistas da flotilha e dezenas de outros especialistas em lei internacional, justifica a tentativa de genocidio que Israel está a levar a cabo.

“É um esforço sem precedentes da sociedade civil para protestar contra o genocídio e contra a ocupação. Há uma consciência cada vez maior de que os nossos governos não nos representam porque eu diria que a esmagadora maioria das pessoas é contra o que se está a passar em Gaza e, no entanto, os governos ocidentais continuam a ser cúmplices - e o Governo português é um deles”, diz Miguel Duarte neste episódio do podcast O Mundo a Seus Pés.

A Global Sumud Flotilla (sumud é uma palavra árabe que significa "resiliência") ainda vai receber mais embarcações ao longo dos próximos dias, umas gregas outras italianas e também de vários países do norte de África e depois, em conjunto, seguem para Gaza onde devem chegar a meio do mês de setembro. Esperam oposição do exército israelita, mas avisam que a violência seria inaceitável uma vez que a missão é completamente pacífica e visa apenas entregar comida - não qualquer tipo de confronto com as autoridades.

Um dos ministros de extrema-direita do Governo de Benjamin Netanyahu, Itamar Ben Gvir, já disse que os ativistas deviam ser tratados como terroristas e alguns dos participantes nesta missão têm denunciado nas redes sociais o que consideram ser atos de intimidação, como a presença de drones de vigilância, que têm pairado por cima da Flotilla.

Miguel Duarte acredita que esta missão será diferente das outras que já tentaram chegar a Gaza devido “à quantidade de barcos e pessoas que estão a tentar quebrar o bloqueio” e também devido ao “apoio e atenção que está a conseguir gerar em todo o mundo” .


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