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Alguém diga a Cristiano que continua fora do prazo

Opinião de João Rosado. Esta noite, na Hungria, Ronaldo carrega uma pesada responsabilidade e um grande objetivo.

Cristiano Ronaldo
JOSE SENA GOULAO/Lusa

João Rosado

No Cristiano World Records hoje não há espaço nem vontade para uma Guinness antes do jogo. Como sempre, da água que se ingere à atmosfera que se respira, todos os detalhes são convocados para uma filtragem e os momentos de celebração têm a prioridade de simples prognósticos, ficam para depois.

Se tudo correr bem, isto é, se tudo correr com normalidade, assim que terminar o Hungria-Portugal de logo à noite, o Mundo fará contas a mais um recorde planetário do capitão da seleção portuguesa.

O guatemalteco Carlos Ruiz, que de repente regressou ao estrelato porque está atravessado no caminho das lendas (de Ronaldo e de Messi), será com brio e honra deixado para trás e os seus 39 golos em fase de qualificação para Campeonatos do Mundo acabarão derretidos pela pontaria do avançado que sorveu no dicionário a palavra veterania.

Cristiano, depois de bisar diante da Arménia, apresentar-se-á em Budapeste a um mísero golo de Ruiz, que sombras e perseguidores à parte parece ter patenteado na América Central a “maldição” que acompanha os craques com esse apelido. Bryan Ruiz, costa-riquenho que Alvalade não esquece pelo histórico falhanço contra o Benfica, escreveria com conhecimento de causa o prefácio do livro que ajudasse a perceber por que motivo Carlitos nunca tirou o dedo do gatilho e mesmo assim nunca conseguiu levar a Guatemala a acertar o passo acima da zona de apuramento.

Improvisado cowboy do FC Dallas, onde em 2016 terminou a carreira, o ainda recordista mundial, se pudesse galopar para o futuro, iria cumprir o sonho de uma vida na eventualidade de disputar uma fase final em território norte-americano. Só que a idade, a este “señor” que vai fazer 46 anos no próximo dia 15, nada perdoa, conforme nada será perdoado à Guatemala que amanhã, no Panamá, pode voltar a ficar aos papéis no caso de repetir a derrota caseira imposta por El Salvador.

Para Roberto Martínez e para o capitão de equipa, o mais que obrigatório bilhete para o primeiro Campeonato a ser discutido por 48 seleções não passa disso, ou seja, é somente uma forma de ingressar com formalidade no lote de candidatos ao ceptro universal, de certeza o supremo e talvez derradeiro objetivo na formidável carreira de Ronaldo.

Com uma média de dois tentos por cada partida disputada com a Hungria (na verdade, bisou em cada um dos três desafios ante os magiares), o símbolo do Al-Nassr considerará um falhanço o que resultar abaixo desta produção no Puskas Arena. Os 38 golos em 48 (!) encontros de qualificação para Mundiais, a que se juntam 14 (!) assistências, representam o selo de garantia deste jovem de 40 anos que ao serviço de Portugal rompe as estatísticas e a tese que o atirava para fora do prazo quando concluiu em lágrimas a participação no Mundial do Catar.


No fundo, como ficou demonstrado desde que trocou o Nacional pelo Sporting, o madeirense até agradeceu essas consecutivas manifestações de desconfiança e aproveitou cada uma delas para escalar a montanha que se seguia. Com a camisola das quinas, 38 (de novo o 38…) dos 140 golos foram registados no último quarto de hora de jogo, sendo que 20 (!) deles aconteceram entre o minuto 86 e o apito final do árbitro.

São dados de alguma frescura, sobretudo para quem foi acusado de só estar a atrasar a renovação que a seleção alegadamente estava a pedir no ataque. Alguém que lhe diga que continua com a validade expirada e Cristiano, no World Records, provará que o Ruiz se mantém inimigo do ótimo. Vale uma Guinness?...

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