José Sócrates recusou esta terça-feira qualquer interferência na nomeação de Armando Vara para a administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e acusou o antigo ministro das Finanças Luís Campos e Cunha de mentir.
Na 9.ª sessão do julgamento do processo Operação Marquês, o antigo primeiro-ministro falou sobre Vale do Lobo, o 'resort' algarvio que beneficiou de um crédito da CGD considerado ruinoso e que está ligado a um dos crimes de corrupção de que Sócrates está acusado.
Falou também sobre a passagem de três meses de Luís Campos e Cunha pelo Ministério das Finanças.
Uma das provas do Ministério Público assenta no testemunho de Campos e Cunha, que disse ter-se demitido do Governo de Sócrates por pressões mudar a administração da CGD. Contudo, o ex-primeiro-ministro sublinha que não foi o antigo ministro das Finanças que se demitiu.
"Eu demiti Campos e Cunha (...). Cansei-me das mentiras deste senhor. Esteve três meses no Governo e, passados três meses, já estava na atividade preferida destas pessoas, que é atacar, denegrir e maldizer" o Partido Socialista", afirma.
José Sócrates disse em tribunal que Campos e Cunha foi demitido na sequência da aprovação de uma lei que retirava benefícios a quem acumulava a pensão com cargos na administração pública.
"O ministro das Finanças tinha uma reforma do Banco de Portugal. Ele estava naquela circunstância, achava que tinha direito a tudo e não queria abdicar de nada. Ele opôs-se à lei", explicou José Sócrates, que acrescentou que Campos e Cunha foi, para si, "um equívoco político".
Em relação a Armando Vara, José Sócrates disse ter mostrado, na altura, reservas em relação à sua nomeação para a administração da CGD, tendo considerado que era "politicamente muito desvantajoso para um Governo que está a iniciar funções".
Segundo a acusação do Ministério Público, José Sócrates e o então administrador da CGD Armando Vara terão sido subornados num total de dois milhões de euros por dois administradores de Vale do Lobo, Diogo Gaspar Ferreira e Rui Horta e Costa, para beneficiar a partir de 2006 o empreendimento. O Ministério Público acredita que Armando Vara terá sido, no final de 2005, nomeado para a administração do banco público por indicação de José Sócrates.
"A acusação indica que nomeei Vara já com pensamentos criminosos e a pensar em Vale do Lobo. Mas as atas em que foram distribuídos os pelouros são de 4 de agosto de 2005 e janeiro de 2006. Este ponto destrói a acusação por inteiro", apontou José Sócrates.
O antigo primeiro-ministro, Armando Vara, Diogo Gaspar Ferreira e Rui Horta e Costa são quatro dos 21 arguidos da Operação Marquês e respondem maioritariamente por corrupção e branqueamento de capitais. Os arguidos têm, em geral, negado a prática dos 117 crimes económico-financeiros que globalmente lhes são imputados.
O julgamento começou em 3 de julho no Tribunal Central Criminal de Lisboa.