O Presidente de Israel deu uma entrevista exclusiva à SIC. Ao correspondente no Médio Oriente, Henrique Cymerman, Isaac Herzog admite a criação de um estado palestiniano se a segurança dos israelitas for garantida. Isaac Herzog, Presidente de Israel e o chefe de estado da nação judaica, em tempos de guerra é um interlocutor quase diário do presidente Biden, e de outros líderes mundiais e do mundo árabe.
Ataque de 7 de outubro de 2023
Questionado sobre se era expectável um ataque à Faixa de Gaza, com as dimensões do que teve lugar em 7 de outubro deste ano, o Presidente responde que “não naquela dimensão”, ainda assim acrescenta que “tendo crescido como judeu israelita […] perguntamo-nos se a História se repete em termos das atrocidades", exemplificando com os casos do Holocausto e da da expulsão de judeus de Espanha em 1492
“Logo, tudo é possível nesta região. Sabemos que os jihadistas estão aqui e que querem controlar todo o Médio Oriente e de seguida a Europa, claro. Não têm qualquer misericórdia pelos judeus e pelos cristãos e, já agora, nem por muitos muçulmanos. Sabemos disto, mas quando nos deparamos com a realidade ou o vemos à nossa frente, é chocante”, explica.
Invasão de Gaza por Israel: 15 mil mortos?
“Antes e mais, não concordámos necessariamente com esses números e muitas das perdas devem-se a ataques do próprio Hamas, como o conhecido caso do hospital, em que o rocket foi lançado pela organização terrorista Jihad Islâmica", afirma o Presidente de Israel.
Isaac Herzog lamenta as mortes de civis palestinianos, afirmando que estes números preocupam o Estado de Israel, ainda assim afirma que o país “tem o direito de se defender”.
“Uma força terrorista hostil, atroz, cruel e sádica entrou no nosso território, chacinou, incendiou, raptou e decapitou as nossas crianças e o os nossos idosos. Temos de mudar a equação.. Temos de mudar o rumo da região. Ou seja, temos de exterminar essa organização terrorista e eles estão na casa das pessoas, estão nas mesquitas, nas lojas, nas escolas. Então, invadimos esses locais e o combate é violento”, defende.
Isaac Herzog acrescenta que para proteger os cidadãos que “não fazem parte disto, enviamos milhões de panfletos, fazemos milhões de telefonemas”, com o objetivo de avisar as pessoas, acrescentando que é o que está a fazer atualmente em Khan Younis.
Objetivo: destruição da infraestrutura do Hamas
O Presidente de Israel afirma que é possível destruir a infraestrutura militar do grupo terrorista do Hamas.
“O Hamas é uma força militar e é apoiado pelo Irão e pelo Hezbollah de diversas formas. Há um império do mal com origem em Teerão e que se espalha por toda a região e pelo mundo. E por fim, em alto-mar, num regresso à pirataria”, acrescentando que “os Houthi levam a cabo atos de pirataria contra navios em alto-mar, apenas por suspeitarem de alguma ligação dos mesmos a Israel”.
Questionado, caso Israel consiga desmantelar o Hamas, se antevê uma força internacional com países árabes que governe Gaze, Herzog acrescenta que há várias possibilidades, sendo esta apenas uma delas.
“Tem sido profundamente discutido na arena internacional. Termos de ver quem estará disposto a ter soldados no terreno e a conseguir impor, concretizar e evitar o ressurgimento de grupos paramilitares, terroristas e jihadistas. Como ajudar Gaza a recuperar e dar esperança ao seu povo”, acrescenta.
Israel vai manter-se em Gaza?
“Israel não quer ficar em Gaza, mas pelo menos num futuro próximo, por questões de segurança para impedir o regresso do terrorismo, e para dar esperança a todas as forças que reconstruirão Gaza, Israel terá de estar presente com todas as medidas de segurança necessárias”, afirma o presidente de Israel.
Nova Autoridade Palestiniana: uma possibilidade?
Henrique Cymerman confrontou o Presidente de Israel com as palavras do Presidente americano, Joe Biden, que disse que uma Autoridade Palestiniana renovada seria a solução depois desta fase de transição, sobre se este cenário seria possível.
“Acho que é um pré-requisito fundamental. Todos sabemos que há muita corrupção e incapacidade da Autoridade Palestiniana no combate ao terrorismo e gestão das suas falhas. Não são completamente disfuncionais. Sei que funcionam bem nalguns aspetos, mas terá de haver mudanças. É uma discussão a nível mundial”, afirma admitindo a criação de um estado palestiniano.
Isaac Herzog é um antigo líder trabalhista que esteve na COP 28 de Dubai, e mantém negociações com líderes do mundo árabe. Segundo ele, estão dispostos a continuar a normalização com a Arabia Saudita e com outros países árabes depois da guerra contra o Hamas, ainda que apontem “muitas falhas que têm de mudar, que tem de haver uma reforma e muitas mudanças”.
Regresso da questão palestiniana à agenda mediática
“Isto não pode continuar. É um trauma enorme para o país. É o maior trauma desde o Holocausto. É algo inconcebível […] Logo, ninguém no seu juízo perfeito, no nosso país, vai abordar a ideia de criar uma solução de dois Estados sem abordar a questão fundamental: com garantimos aos israelitas uma vida em segurança? E também aos palestinianos, já agora. Eu quero que os palestinianos também vivam em paz”, defende.
Acrescentando que não rejeita “nenhuma ideia que garanta a segurança de Israel”.
“Mas o que eu digo, enquanto alguém que cresceu na esfera política e no partido que defendeu a solução de dois Estados, é que não é exequível nem realista neste momento, até abordarmos questões centrais”, acrescenta.
Segundo o presidente de Israel, o ataque de 7 de outubro “tem que ver com a doutrina de Islão fundamentalista e extremista que não aceita judeus, cristãos, ou qualquer outra nação, que acredita apenas no fundamentalismo”, acrescentando que “não pode haver qualquer acordo com gente tão selvagem”.
Declarações de António Guterres
Questionado sobre a opinião que tem relativamente às afirmações proferidas pelo secretário-geral das Nações Unidas, o Presidente israelita diz que teve “várias discussões com Guterres e ouvi as críticas”.
“Esperava uma abordagem mais justa por parte das Nações Unidas e do seu secretário-geral em relação a todo o problema. Esta atrocidade ultrapassa o imaginável em termos de regras do jogo na família das Nações Unidas. Se queremos manter as regras do pós-Segunda Guerra Mundial, na gestão das Nações Unidas, esta atrocidade deve ser condenada sem ‘ses’, ‘mas’ ou explicações" defende.