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Descoberto “continente perdido” que se acreditava ter desaparecido sem deixar rasto

O mistério do que aconteceu a um continente que se desprendeu da Austrália e desapareceu há 155 milhões de anos pode ter sido finalmente resolvido.

Gondwana Research

Catarina Solano de Almeida

Os cientistas conseguiram reunir vestígios de um continente que se separou do oeste da Austrália há 155 milhões de anos e que ter-se-á fragmentado e desaparecido à medida que se deslocava para norte, em direção ao Sudeste Asiático.

O mistério do que aconteceu a um continente que desapareceu há 155 milhões de anos pode ter sido finalmente resolvido. Uma equipa de geólogos dos Países Baixos conseguiu reunir provas da existência de Argolândia e recriar os seus movimentos.

Há muito que os cientistas sabem que uma massa de terra com 5.000 km de comprimento se separou da Austrália há 155 milhões de anos, graças aos vestígios deixados na geologia de uma bacia oceânica profunda conhecida como Planície Abissal de Argo, na costa noroeste do país.

Mas, ao contrário da Índia, que se separou do antigo supercontinente Gondwana há 120 milhões de anos e ainda hoje forma uma massa de terra intacta, a Argolândia dividiu-se em fragmentos. E até agora, os cientistas não conseguiam perceber onde foram parar esses fragmentos de terra.

Um divórcio complicado com a Austrália

O continente perdido Argolândia teve um divórcio complicado do oeste da Austrália. À medida que forças tectónicas esticaram a massa de terra e afastaram-na do resto do continente australiano, Argolândia foi desintegrando-se e pedaços de terra foram espalhando-se pelo Sudeste Asiático, descobriu uma investigação publicada na revista Gondwana Research,

"Sabíamos que deveriam estar algures a norte da Austrália, por isso esperávamos encontrá-los no sudeste da Ásia", disse o principal autor do estudo, Eldert Advokaat, investigador do departamento de ciências da Terra da Universidade de Utrecht, na Holanda, à Live Science.

Reconstruir a viagem do “continente separatista”

Os investigadores foram encontrando fragmentos de terras antigas espalhados pela Indonésia e Myanmar, mas quando tentaram reconstruir Argolândia a partir desses fragmentos, “nada encaixava”, segundo Advokaat.

A equipa trabalhou então de trás para frente: através dos vestígios encontrados no Sudeste Asiático, reconstituíram a jornada de Argolândia em direção ao norte.

Entre os fragmentos de terras antigas, descobriram restos de pequenos oceanos com cerca de 200 milhões de anos. Esses oceanos provavelmente formaram-se à medida que as forças tectónicas esticaram e partiram Argolândia, mas ainda antes de a massa de terra de 5.000 quilómetros de comprimento se ter separado da Austrália, disse Advokaat.

“Esse processo dura entre 50 e 60 milhões de anos e, há cerca de 155 milhões de anos, terra e oceanos começam a migrar para o Sudeste Asiático. Não perdemos um continente; já era um conjunto muito extenso e fragmentado".

Por essa razão, Advokaat e os seus colegas também se referem à Argolândia como “Argopélago”.

A reconstrução da história deste continente ou arquipélago poderá vir a explicar como era o clima da região, que teria arrefecido à medida que os oceanos se formaram. E à medida que fragmentos da Argolândia colidiram com massas de terra no Sudeste Asiático, também moldaram a rica biodiversidade que vemos hoje em dia. Isto poderá ajudar a explicar a distribuição desigual das espécies ao longo de uma barreira invisível que atravessa a Indonésia, acrescentou Advokaat, que acredita que esta investigação será um terreno fértil para muitas outras pesquisas e descobertas.

Outros continentes desaparecidos

Argolândia não é o único continente “perdido” que acabou por ser encontrado: a Zelândia foi “oficializada” em 2020. A Zelândia fazia parte de Gondwana, ou Gonduana, o supercontinente que antes albergava os continentes que hoje conhecemos como África e América do Sul.

Há cerca de 85 milhões de anos, a Zelândia separou-se de Gondwana. A massa de terra à deriva, aproximadamente metade do tamanho da Austrália, era território de dinossauros e tinha floresta tropical

O continente Grande Adria, dado como desaparecido há 120 milhões de anos, foi detetado a 1500 quilómetros de profundidade do sul da Europa.

Há ainda Balkanatolia, que pode ser um remanescente de Grande Adria. Uma equipa de geólogos e paleontólogos descobriu que, há cerca de 50 milhões de anos, existia um continente que separava a Europa da Ásia, que tinha uma variedade única de vida selvagem antiga.

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