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“Ataram crianças umas às outras e torturaram-nas”

Um membro da Zaka, organização de busca e socorro especializada na recolha e identificação de vítimas mortais de ataques terroristas em Israel, descreve o cenário encontrado no kibbutz Be'eri.

Cláudia Machado

SIC Notícias

De voz embargada, faltam muitas vezes as palavras a Nathan Konig quando tenta descrever aos jornalistas o cenário que encontrou no kibbutz Be'eri, no sul de Israel, perto da fronteira com a Faixa de Gaza.

O jovem integra uma equipa destacada para a região pela Zaka, organização de busca e socorro especializada na recolha e identificação de vítimas mortais de ataques terroristas no país, que diz ali ter encontrado 200 corpos, muitos deles com sinais de tortura.

“Em 28 anos, nunca vi nada assim. Não consigo mais falar sobre isto. Não há palavras, vi de tudo. Eram 200 corpos, nunca vi tantos juntos no mesmo sítio. Foram vítimas de abusos”, conta aos jornalistas, que lhe perguntam se viu crianças e bebés entre os mortos, ao que responde que estes “iam dos 0 aos 100 anos”.

Nathan continua a descrever o resultado de um ataque do Hamas, tendo testemunhado coisas “que nem em filmes” imaginaria ver, apesar do trabalho a que se dedica na Zaka, no qual muitas vezes é confrontado com corpos mutilados, e que o levam a questionar tamanha violência.

“Não sei como tiveram a força mental para fazer uma coisa destas. Onde é que uma pessoa ganha coragem para um ato destes?”, desabafa o operacional.

“Ataram crianças umas às outras e torturaram-nas”

Nathan Konig continua, ainda que visivelmente nervoso e emocionado, a descrever como algumas das vítimas, desta vez crianças, foram encontradas.

“Nada disto me faz sentido, não me perguntem sobre o bem e o mal. Eles ataram crianças umas às outras e torturaram-nas”, desabafa.

O membro da Zaka partilha ainda um pedido que recebeu de uma família de um dos mortos, a quem tinha sido amputada uma mão.

Na lei do luto judaico, entre os rituais que envolvem os funerais, está estabelecido que o corpo deve ser entregue à terra completo. É, inclusive, proibido embalsamar um cadáver, pois até o sangue é parte sua e deve ser enterrado com ele.

Neste caso, Nathan lamenta que a mão “não tenha sido encontrada”.

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