José Sócrates acusa o procurador do Ministério Público de 'voyeurismo' político, depois de ter sido reproduzida em tribunal uma conversa telefónica entre o antigo primeiro ministro e o ex-administrador da PT Henrique Granadeiro.
A manhã da terceira sessão de julgamento de José Sócrates na Operação Marquês ficou marcada por um incidente com a escuta de uma conversa entre Sócrates e Granadeiro. Ouve-se o antigo primeiro-ministro a falar com o antigo presidente da PT sobre uma conversa intima que tinha tido com os históricos socialistas Mário Soares e Almeida Santos. A escuta foi interrompida devido à linguagem utilizada, mas sobretudo pelo tema.
À saída do tribunal, Sócrates diz que esteve duas horas dentro da sala de audiências à espera que fossem apresentadas provas.
"Estamos aqui há duas horas à espera que o Ministério Público apresente uma prova, que se concentre em provar aquilo que afirma há 10 anos. E o que é que faz? Reproduz uma conversa telefónica entre mim e o Dr. Henrique Granadeiro para fazer o espetáculo mais indigno de 'voyeurismo' político para que eu fosse exposto a falar de Mário Soares e de Almeida Santos. Uma coisa horrível", afirma.
O antigo primeiro-ministro deixa duras críticas ao procurador, que acusa de "não ter escrúpulos, respeito nem empatia".
"Não tem consciência da gravidade do que fez (...). Este Ministério Público não tem respeito por nada. Se houvesse alguma sensatez da parte do Ministério Público tiravam imediatamente este procurador indigno do julgamento", refere.
11 anos após a detenção de José Sócrates no aeroporto de Lisboa, arrancou na passada quinta-feira o julgamento da Operação Marquês, que leva a tribunal o ex-primeiro-ministro e mais 20 arguidos e conta com mais de 650 testemunhas.
Estão em causa 117 crimes, incluindo corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, pelos quais serão julgados os 21 arguidos neste processo.
Para já, estão marcadas 53 sessões que se estendem até ao final deste ano, devendo no futuro ser feita a marcação das seguintes e, durante este julgamento serão ouvidas 225 testemunhas chamadas pelo Ministério Público e cerca de 20 chamadas pela defesa de cada um dos 21 arguidos.