Ontem Já Era Tarde

Beto: “Precisei de procurar ajuda depois de jogar, estar sem competir deixou-me perto de uma depressão”

Foi uma carreira repleta de grandes clubes, em vários campeonatos, títulos importantes (ganhou por quatro vezes a Liga Europa, três no Sevilha, uma no FC Porto) e de presenças com a seleção nacional nas mais importantes provas. No final da temporada 2020/12, ao serviço do Farense, Beto decide pendurar as luvas, mas não está totalmente convencido com a nova vida sem futebol e sem competição.

Luís Aguilar

“Passado pouco tempo, tenho um convite para jogar na Finlândia. Não conhecia nada do futebol finlandês. Talvez o Litmanen [um dos melhores jogadores finlandeses da história] e pouco mais. Mesmo assim fui porque queria fazer parte de uma equipa, estar a jogar e a treinar.”

A experiência na Finlândia não durou muito e houve um choque de realidades: “Eles não levam o futebol muito a sério. Lá é mais hóquei no gelo.” Terminada a aventura nórdica, Beto percebeu que tinha de encarar a nova fase da sua vida sem a azáfama diária de ser jogador de futebol.

“Procurei ajuda e encontrei uma pessoa que me deu algumas ferramentas a indicar-me o caminho pelo qual podia seguir.” O padel, que joga quatro vezes por semana, tem sido uma forma de alimentar a parte competitiva. Além disso, é embaixador da Liga Portugal, com a qual desenvolve várias ações, e não esconde que um dia poderá aventurar-se no papel de diretor desportivo.

“Chateei-me com o Pepe por ele deixar de jogar. Com 41 anos, foi o nosso melhor jogador no Euro”

Não sendo um hábito unicamente português, Beto diz que a ideia de fim de prazo de validade para jogadores na casa dos 35, 36 anos continua a ser muito presente.

“Há muitos jogadores para colocar e muita gente a querer colocar jogadores. Isso faz com que se olhe para os mais experientes como os primeiros a retirar, mas é errado. Tem de se olhar para o rendimento, seja qual for a idade. E, neste ponto, Beto dá alguns exemplos: “Vejam o Modric, o Cristiano ou o Pepe. Aliás, chateei-me com o Pepe por ele deixar de jogar. Com 41 anos, foi o nosso melhor jogador no Euro. São estes exemplos que devem desconstruir essa ideia do jogador começar a entrar na ponta final da carreira a partir dos 30 anos. Não sendo um problema só português, é algo que se vê muito em Portugal.”

“Jogadores não são ouvidos sobre os calendários. A mim custa-me ver o Rodri receber a Bola de Ouro de muletas”

É um dos temas do momento e promete ameaçar a realização do Mundial de Clubes marcado para o próximo Verão. Vários jogadores e treinadores de elite já se mostraram contra o excesso de jogos e de competições, sublinhando a necessidade de preservar a saúde física e mental dos atletas.

Por outro lado, há quem considere que a redução das competições terá de levar a uma diminuição dos salários dos jogadores e Luís Figo foi uma das vozes nesse sentido. Para Beto, fica claro que “o caminho não pode ser este”.

“Estou sempre do lado do atleta. Percebo que as finanças tenham de andar ao lado do futebol. Mas o Luís [Figo] fazia 40 jogos por ano e se calhar queria fazer 70, mas se fizer cinco anos seguidos de 70 jogos talvez já fosse demasiado. Respeito-o muito, ele é dono e senhor da sua opinião, mas a meu ver não se olha para o atleta, não se olha para a sua saúde. Agora que estou de fora, enquanto adepto, não gosto nada, por exemplo, de ver um Rodri receber a Bota de Ouro de muletas.”

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