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Ruben Guerreiro: “Senti que o meu ídolo (Lance Armstrong) tinha mentido toda a vida”

Começou por jogar futebol, mas herdou a paixão pela bicicleta do pai e acabou por trocar a bola pelos pedais. Primeiro na BTT, depois na competição de estrada. Em criança, tinha um ídolo: Lance Armstrong, que admitiu ter usado doping em boa parte da carreira. Para Ruben Guerreiro, o seu herói “deixou uma mancha no ciclismo difícil de apagar”.

Luís Aguilar

Natural de Pegões, no Montijo, Ruben Guerreiro foi queimando etapas até chegar às grandes provas mundiais. Confessa que em criança não era fácil partilhar o seu gosto pela bicicleta com outros miúdos.

“Tentava falar com eles sobre a Volta a França, mas só queriam saber de futebol. Deixavam-me a falar sozinho.”

Cedo percebeu que precisava de sair do país para alcançar uma boa carreira internacional. Partiu com 20 anos e passou por equipas dos Estados Unidos e Bélgica. Atualmente, está na Movistar, em Espanha.

Em 2020, em pleno período de Covid-19, alcançou o momento mais alto da sua carreira quando se tornou o único português da história a ganhar o Grande Prémio de Montanha da Volta a Itália: “Foi uma batalha campal em cima de uma bicicleta. Os italianos iam sempre a falar e a fazer jogos psicológicos. Português, és isto e aquilo. Felizmente, consegui ficar com essa camisola.”

“Lance Armstrong era como um herói de cinema”

Ainda em criança, Ruben Guerreiro tinha um ídolo: “O Lance Armstrong era como um herói de cinema. Uma referência por tudo aquilo que conseguiu alcançar no ciclismo e também fora dele [o norte-americano debelou um cancro testicular].”

Mais tarde, um dos ciclistas mais emblemáticos da história da modalidade admitiu ter usado doping em boa parte da sua carreira.

“Senti que o meu herói tinha mentido toda a vida”, lamenta Ruben Guerreiro: “Foi muito duro. Ele deixou uma mancha no ciclismo difícil de apagar.”

Atualmente, o grande nome do ciclismo é o eslovej«no Tadej Pogacar. Há quem defenda que é o melhor ciclista de sempre, mas não se livra dessa desconfiança: “Conheço-o desde muito novo, competi com ele várias vezes e só ganhei uma. Desde cedo que dava para ver que ele era diferente. Os resultados mostram isso, mas talvez pelo efeito Armstrong, há muita gente que tem dúvidas sobre a parte do doping.”

“Mesmo em férias, tenho dificuldade em pegar numa bicicleta só para passear”

Atualmente a gozar um curto período de férias antes do arranque da nova época de ciclismo, Ruben Guerreiro mantém a rotina de treinos, entre a bicicleta e o ginásio, mas revela que quando não está a treinar, é difícil pegar na bicicleta só por lazer.

“Andar de bicicleta dá-me muito prazer, liberdade e adrenalina. Mas confesso que tenho dificuldade em pegar numa bicicleta só para passear, embora agora até possa fazê-lo. Mas um ciclista tem 50 a 60 competições por ano e não consigo mudar esse chip.”


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