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Jacqueline Cavalcanti: "Cheguei a perder 16 quilos num mês para uma luta"

Aos 26 anos, Jacqueline Cavalcanti é um dos nomes em ascensão no UFC (maior organização de MMA do mundo). Em três combates alcançou outras tantas vitórias e tem o sonho de conquistar o cinturão de peso-galo (61,2 quilos), a sua categoria. Mas o percurso até alcançar este patamar foi recheado de desafios.

Luís Aguilar

Nasceu no Brasil e veio para Portugal ainda com 11 anos. Sempre com a paixão pelos desportos de combate, com a base no kickboxing até optar pelo MMA, admite que só conseguiu passar a viver do desporto há cerca de ano e meio.

“Houve uma altura em que chegava a trabalhar 12 horas por dia e depois ia treinar. Também trabalhei no IKEA na parte da reposição. Tinha um relógio onde marcava que eu fazia 19 quilómetros por dia dentro do IKEA a levantar caixas, a arrumar, essa parte toda. Chegava aos treinos e doíam-me os braços. Em alguns dias quase que nem conseguia saltar à corda.”

Apesar do esforço em conciliar a parte profissional com a paixão pelos desportos de combate, Jacqueline afirma que nunca encontrou desculpas para treinar menos: “Se queres chegar a algum lado, tens de passar por sacrifícios. Digo sempre o mesmo às pessoas que querem viver do desporto e tornarem-se atletas. Têm de acreditar em vocês porque vai demorar até chegar algum apoio, uma bolsa ou um patrocínio. Estou a competir há 12 anos e só tive a oportunidade de viver do MMA desde que entrei para o UFC.”

“Cheguei a Portugal sem saber ler nem escrever, hoje luto com a bandeira de Portugal”

Apesar de ter chegado a Portugal com 11 anos, Jacqueline diz que ainda hoje há muita discussão dos seguidores do UFC sobre a sua naturalidade: “Ouço muita coisa. Uns dizem que sou portuguesa, outros brasileira, e até há quem diga que sou africana. As pessoas podem dizer o que quiserem. Mas luto por Portugal e levo sempre a bandeira de Portugal para as competições.”

Jacqueline lembra as oportunidades que teve no país depois de sair do Brasil:

“Cheguei a Portugal sem saber ler ou escrever. Só para que se tenha uma ideia de como era o ensino no Brasil. A minha vida lá também não era fácil. Vim para cá e tudo mudou.”

Jacqueline mudou-se de São Paulo para o Pragal, em Almada, e diz que também não esquece essa cidade da margem sul do Tejo: “Quando luto, vejo ali a dizer Almada e foi aí que tudo começou. Vou sempre representar Almada.”

“Na nossa vida, podes treinar cinco horas por dia, mas a dieta são 24 horas”

Jacqueline entrou para o UFC no ano passado, esperou, até que recebeu a notícia. A sua primeira luta iria ser passadas quatro semanas. A partir daí foi uma luta contra o tempo e contra o peso. “Estava com 77 quilos. Tive de perder 16 quilos porque a minha categoria é de 61,2 quilos.” Além da preparação para a luta, os atletas de desportos de combate vivem a pressão do dia da pesagem.

“Nunca falhei a dar o peso. No kickboxing fiz 25 combates profissionais e dez amadores e consegui sempre. Mas desta vez estava com receio de não conseguir.”

Com um forte plano de nutrição e treinos, Jacqueline alcançou o peso pretendido, mas confessa que essa parte é uma batalha constante: “As pessoas não têm noção do que um atleta de luta tem de fazer para bater o peso. É algo exaustivo fisicamente, mas ainda mais psicologicamente. Podes treinar cinco horas por dia, mas a dieta são 24 horas por dia.”

A pesagem realiza-se no dia anterior à luta e, a partir daí, inicia-se o processo inverso. “Depois da pesagem é tentar hidratar ao máximo, com suplementos específicos, e começar a comer. Eu consigo ganhar sete a oito quilos entre a pesagem e o combate. Chego à luta e peso 68 quilos. Também não quero pesar mais porque sou uma atleta de movimento e a minha força nas mãos não vai alterar muito se tiver mais peso.”

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