O carro do Papa Francisco ainda não tinha passado e a multidão já saudava o Papa no bairro da Serafina. Muitos moradores madrugaram para terem um lugar na primeira fila.
“Nem que eu tivesse vindo a pé, eu vinha ver o meu santo Papa”, diz um local. "Parece que o nosso coração fica cheio de alegria", afirma outro morador.
Centenas de moradores acolheram Francisco num “evento único” que marcou o início do quatro dia da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). No final da visita, o Papa ainda parou para abençoar uma bebé de um ano e quatro meses.
Um bairro “sem condições mínimas”
No Centro Social de São Vicente de Paulo, o cónego Francisco Crespo e a equipa apoiam cerca de 700 habitantes. Uma ação que é necessária para combater a situação de precariedade que se vive no bairro da Serafina, e que o poder político conhece.
"Temos ainda pessoas sem higiene, sem água, sem esgotos, sem as condições mínimas. O que é certo é que o poder político e camarário conhece e sabe essa realidade", explica Francisco Crespo.
Carlos Moedas garante que está em curso o maior projeto de habitação na cidade de Lisboa. Mas à Serafina ainda não chegaram os resultados.
“Estamos a investir 800 milhões de euros em habitação até 2026 e depois estamos neste momento a construir muito mais do que construímos”.
Questionado sobre a necessidade de obras especificamente no bairro da Serafina, o autarca de Lisboa diz que chegou há dois anos e que, portanto, “é natural que não se consigam resolver todos os problemas”.
O discurso do Papa no bairro da Serafina
Num discurso cheio de humor, o Papa arrancou gargalhadas ao mesmo tempo em que apontou problemas. "Juntos" foi a palavra sublinhada na visita ao bairro da Serafina.
“São muitas as coisas que vos queria dizer agora, mas os meus refletores não estão a funcionar bem e não consigo ler bem”, disse Francisco, que ganhou os primeiros sorrisos.
Já ia a meio da mensagem quando decidiu desviar o olhar do papel para falor sobre as necessidades do bairro da Serafina.
O Papa sublinhou o valor do concerto e pediu aos responsáveis de instituições sócio-caritativas da Igreja que se questionem se têm nojo da pobreza, desafiando-os a sujar as mãos.
“O amor concreto, aquele no qual sujamos as mãos, só quando damos a mão a uma pessoa necessitada, a um doente, a um marginalizado”, explica Francisco.
Recorrendo a mais uma metáfora, op Sumo Pontífice disse que a Igreja não é um museu de arqueologia, mas sim vida perpétua.
E para o momento em que o desânimo se instala, Francisco deixou uma receita.
Sigam em frente e não desaminem. Se ficarem desanimados, bebam um copo de água e sigam em frente".