Jornada Mundial da Juventude

“Queremos desarrumar a casa”: família com cinco filhos terá mais seis durante a JMJ

O Vasco e a Mafalda Condado têm cinco filhos, entre os 27 e os 10 anos. A casa está cheia, mas há sempre espaço para mais e, por isso, vão acolher mais seis peregrinos da JMJ durante uma semana. A sua missão de vida é estar “desconfortável” para acolher, até mesmo estando as suas caras espalhadas por Lisboa em cartazes da Jornada.

JMJ Lisboa

Maria Madalena Freire

Ser o rosto das famílias de acolhimento da JMJ Lisboa foi acidental, mas a escolha de acolher seis peregrinos em sua casa foi instantânea. Para além do envolvimento na organização, a casa do Vasco e da Mafalda nos Olivais será abrigo de estranhos que irão “desinstalar” a família.

Casados há quase 28 anos, Vasco e Mafalda sempre estiveram alinhados na sua missão de vida: criar, acolher e estar sempre de braços abertos. A política da casa é de “porta aberta”, ao ponto de se cruzarem com os amigos dos filhos enquanto estão de pijama de manhã.

Não foi difícil para o casal decidir que queriam partilhar uma vida, bastou um ano e meio de namoro, em que a maior parte dos meses foi logo a preparar o casamento.

“Conhecemo-nos num contexto muito concreto e específico, num encontro internacional das Equipas de Jovens, mas ainda antes do namoro, nós desenvolvemos uma amizade muito grande”, contou Vasco Condado, de 53 anos.

A Mafalda, de 51 anos, interrogava-se na altura: “para quê esperar?” e, até hoje, o seu lema tem sido esse.

O Vasco cresceu como um de sete irmãos, apesar da Mafalda só ter um. No entanto, a vontade de querer ter uma família numerosa sempre foi partilhada e acabaram por “abrigar” cinco filhos que vão dos 27 aos 10 anos.

Cabe sempre mais um

Mesmo com os braços cheios, o Vasco e a Mafalda acolheram mais pessoas. A primeira vez foi um casal libanês que precisava de abrigo durante três dias para umas reuniões preparatórias das Equipas de Nossa Senhora, grupo católico mariano para jovens e casais.

“Foi uma experiência rica, são um pouco mais velhos que nós, falavam francês e não inglês e para nós foi muito importante em termos de família termos esta capacidade de acolher alguém que não conhecemos”, contou a Mafalda que acrescentou que é sempre importante conhecer as realidades diferentes de um casal na partilha de experiências de vivência.

Agora, não é um casal, mas quase como se fossem três. Como referiu Mafalda, o plano não era abrir as portas a tantos, mas com cada vez mais dificuldades em conseguir que famílias quisessem acolher, a casa dos Condado encontrou ainda mais espaço e vai, então, receber seis peregrinos.

“Na paróquia dos Olivais, o Padre no final da missa fazia sempre um apelo para as pessoas se inscreverem para acolher. Nesse momento, olhamos um para o outro, nem foi preciso falarmos”, relatou Mafalda.

E foi nesse entendimento “apressado” - como indica o lema da JMJ “”Maria levantou-se e saiu apressadamente" - que se prepararam para ter seis jovens estrangeiros em casa, mais os quatro filhos que ainda permanecem no “ninho”. Para o casal, é importante dar o exemplo ao filhos desta política de “portas abertas”, tendo a vontade da família “não ficar fechada em si, mas sim acolhedora aos outros”.

“Este acolhimento leva-nos a desinstalar-nos. É um desafio e partilha importante para os nossos filhos, esta capacidade de sairmos do nosso conforto, do nosso canto, rotina, por uma necessidade maior”, explicou Vasco Condado.

O tropeço

Mas o envolvimento do casal, e até da própria família, não fica por aqui. Maria, a rapriga mais velha, está como voluntária na paróquia do Campo Grande e Vasco, para além disto, está no comité da organização central, nomeadamente no setor dos voluntários.

Há dois anos que está envolvido no projeto e, Mafalda, com vontade de participar, e sendo da área da comunicação e marketing, também quis ter uma envolvência direta com a JMJ 2023. E foi, desta forma, que a família Condado “tropeçou” nos cartazes que deram a conhecer a sua cara à capital.

O desafio, quando Mafalda entrou em contacto com a equipa de comunicação da Jornada, foi encontrar uma família real para incentivar outras a acolher os peregrinos. Depois de tanta procura - sem sucesso - foi o próprio Vasco que disse “nós somos uma família real e vamos acolher”.

Primeiro, achava-se que os cartazes iriam estar apenas nas paróquias, para que as famílias católicas albergassem em sua casa os jovens. Depois, Mafalda e Vasco começaram a ver o seu reflexo em todo o lado. E não só eles.

“O mais distante do que podia estar à espera foi receber uma fotografia do cartaz do meu mecânico”, confessou Vasco.

Porta aberta para todos (e o Papa)

Mesmo estando na organização dos voluntários, na comunicação e até a ajudar a paróquia local, Mafalda e Vasco não sabem de onde vêm, nem os nomes, nem idades dos seis peregrinos que vão acolher.

Mas esses detalhes não importam, porque o desafio é o mesmo com quem quer que seja.

“Queremos que os nossos filhos tenham uma consciência diferente do que está à nossa volta. Sendo também um momento importante para a Igreja, queremos dar o nosso contributo”, explicou Vasco que lembrou que a Mafalda colocou cartazes no prédio onde vivem a desafiar para serem o edifício com mais peregrinos dos Olivais - ou até mesmo de Lisboa.

Este acolhimento também dará oportunidade da Mafalda e Luisinha, filha de 10 anos, participarem de forma mais ativa na Jornada, esperando que os peregrinos partilhem as suas experiências do dia a dia.

A casa sempre foi, e sempre será, aberta. Desde os amigos, aos amigos dos filhos, a estrangeiros, a jovens que têm lá em casa uma vez por mês, a casais também e às 60 crianças pelas quais são responsáveis em campos de férias.

Por isso, deixar entrar, para o casal, é “sair apressadamente”, que é exatamente o que a Igreja precisa.

“A Igreja precisa de olhar a população que tem à sua volta e, no sentido oposto, nós todos temos de sair apressadamente à procura da igreja que precisa de nós”, disse Vasco.

Para isso, o casal espera que a vinda do Papa dê “uma lufada de ar fresco” na instituição católica, “que se quer de todos, mas depende de todos”.

“Que esta vinda do Papa nos ajude a centrar no essencial, a querer arregaçar as mangas neste sentido missionário, para que seja uma alegria e uma festa”, desejaram.

O casal está ansioso por ouvir as palavras de Francisco e de ter a “casa desarrumada”, que é o que um católico precisa, constantemente, para ir ao encontro da sua fé, da palavra de Jesus, como referem e acreditam Mafalda e Vasco.

“Espero que depois de dia 7, todos nós continuemos e saibamos desarrumar a casa e sair de nós, a procurar o outro, e fazer uma festa. É isso que vai dar sentido à nossa vida”, concluiu Vasco.

O coração de Mafalda e Vasco quer ser do tamanho do mundo e, se o mundo pedisse para entrar, o casal encontraria maneira de ajeitar um canto onde pudesse ficar.

JMJ Lisboa

A jornada irá decorrer de 1 a 6 de agosto em Lisboa, em várias “frentes” religiosas. Do Parque das Nações, até Oeiras, passando pelo Parque Eduardo VII, o Papa Francisco estará com jovens de todo o mundo, peregrinos que serão acolhidos por famílias ou paróquias nesses dias.

Mais de oito mil famílias estão neste momento certificadas pela Jornada Mundial da Juventude para receber peregrinos durante o evento.

As inscrições continuam abertas. A organização garante que se alguma família desistir em cima da hora, há sempre um plano alternativo para os peregrinos não ficarem sem alojamento.

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